A superprodução de Ridley Scott, que arrecadou mais de R$ 1 bilhão, está na Netflix Divulgação / Twentieth Century Fox

A superprodução de Ridley Scott, que arrecadou mais de R$ 1 bilhão, está na Netflix

Aos 86 anos, Ridley Scott continua a exibir sua capacidade extraordinária de criar filmes que elevam figuras históricas a patamares quase divinos, conferindo-lhes um brilho quase mitológico. Este talento fica evidente em filmes como “Êxodo: Deuses e Reis”, onde o diretor enobrece personagens emblemáticos da história judaico-cristã, instigando reflexões sobre crenças e imagens que se fixaram na consciência coletiva por milênios. 

O filme, que segue a linha de obras anteriores como “Prometheus” e “Gladiador”, aborda a vida de Moisés com uma pitada de esplendor, mesclando fatos históricos com uma narrativa audaciosa que questiona e desafia as verdades aceitas. Scott, com sua abordagem única, proporciona uma interpretação pessoal e cientificamente engajada da trajetória de seu personagem principal. 

Na narrativa, ambientada no ano 1300 antes da Era Comum, retrata-se o povo hebreu, que já se encontrava há quatro séculos sob a escravidão no Egito, participando ativamente da construção de monumentos e cidades que marcaram a civilização da época por sua originalidade arquitetônica e avanços em diversos campos do saber. 

O roteiro, desenvolvido por Adam Cooper, Bill Collage, Jeffrey Caine e Steven Zaillian, introduz desde o início a iminente guerra contra os hititas, mostrando uma cena tensa no palácio do faraó Seti I em Mênfis, onde estratégias de batalha são discutidas enquanto a cidade já enfrenta ameaças externas. A figura central, Moisés, ganha destaque em diálogos profundos com o líder egípcio, sugerindo a complexidade de sua posição na corte. 

Um dos pontos altos do filme ocorre quando Christian Bale e John Turturro, interpretando respectivamente Moisés e o faraó Seti I, demonstram uma relação profunda que transcende os laços biológicos, elemento que Scott explora com sensibilidade. A rivalidade entre Moisés e Ramsés II é introduzida de maneira sutil, crescendo até culminar em confrontos épicos marcados por referências mitológicas. 

Visualmente, o filme é um espetáculo, com destaque para cenas impressionantes como a transformação do rio Nilo em sangue e as consequentes pragas que devastam o Egito, até a dramática passagem pelo Mar Vermelho. Apesar de flertar com explicações racionais para os milagres bíblicos, Scott mantém a essência mística, especialmente na cena em que um Moisés já envelhecido esculpe as tábuas dos dez mandamentos. 

Embora a participação de Ben Kingsley como Nun, o mentor de Moisés, possa ter deixado alguns espectadores desapontados pela brevidade, o filme não deixa de impactar ao abordar a libertação dos hebreus e sua jornada até a terra prometida. “Êxodo: Deuses e Reis” confronta estereótipos e preconceitos, desmantelando visões antiquadas e prejudiciais, numa narrativa que ressoa profundamente nos tempos modernos. 


Filme: Êxodo: Deuses e Reis
Direção: Ridley Scott
Ano: 2014
Gêneros: Épico/Drama/Ação
Nota: 8/10