Ganhador do Oscar, tesouro inestimável do cinema europeu, com Mads Mikkelsen, está na Netflix Divulgação / Samuel Goldwyn Film

Ganhador do Oscar, tesouro inestimável do cinema europeu, com Mads Mikkelsen, está na Netflix

A passagem dos anos muitas vezes nos leva a uma esfera melancólica, onde a vida parece se desenrolar em uma frequência paralela, distante das satisfações outrora apreciadas. Alguns resistem a essa invasão silenciosa, enquanto outros se resignam à sua chegada, mas todos são deixados com uma sensação persistente de que a existência escapa de nossas mãos, deixando para trás um vazio entre a teimosia e a própria morte. Nestes momentos, qualquer solução é bem-vinda e métodos pouco convencionais adquirem ares de ciência, ao menos até que uma ideia melhor se apresente para os problemas que não aguardam por nós.

Quem nunca se viu refletido nos protagonistas de “Druk – Mais uma Rodada”, a distopia íntima assinada por Thomas Vinterberg? O diretor dinamarquês mergulha na rotina de quatro amigos, todos professores do ensino médio, ávidos por resgatar o tempo perdido. Ao longo dessa jornada, Vinterberg e o corroteirista Tobias Lindholm conferem um verniz científico a uma descoberta perigosa (e emocionante) feita por um deles, tudo conduzido com a moderação cartesiana que resulta em um desajuste social de proporções inestimáveis.

A trama se inicia com adolescentes competindo em um desafio de resistência ao álcool, que se estende até uma farra no metrô, culminando com um deles algemando um segurança em uma barra de ferro. A narrativa ágil de Vinterberg salta de uma cena para outra, permitindo que o espectador faça as conexões necessárias, enquanto no colégio onde um dos jovens estuda, o incidente é tema de discussão no conselho de professores.

Enquanto isso, nas salas de aula ao redor, os professores ministram aulas monótonas, mas é Martin quem está mais atormentado, talvez porque o mal-estar já se tenha apoderado dele. Mads Mikkelsen transmite ao protagonista a dose de desânimo que todos nós experimentamos em algum momento da vida. Martin é quem sente o impacto mais profundamente, a ponto de mal conseguir sair da cama, enquanto outros três amigos o acompanham em uma crise da meia-idade que se estende para suas carreiras. Nenhum deles consegue reacender o prazer de compartilhar com os alunos as inquietações que antes eram fontes de respostas e incertezas diferentes, até que uma informação peculiar inspira uma faísca de esperança.

Um estudo sugere que o corpo humano possui uma predisposição congênita para um nível de álcool no sangue abaixo do ideal, levando Martin a concluir que é preciso corrigir essa falha da natureza. Apesar de ser professor de história, Martin encontra na pesquisa a solução para seus problemas cada vez mais invasivos, e passa a manter uma taxa de álcool no sangue de 0,05% em todas as ocasiões, inclusive – ou principalmente – durante o expediente. Ele compartilha sua epifania com os outros, e a transformação sustentada por Mikkelsen é, sem dúvida, o ponto alto de um filme assumidamente burlesco e caricato, para o qual Vinterberg reserva um desfecho messiânico, porém divertido. Exatamente como grandes doses de excentricidade podem nos transformar.


Filme: Druk — Mais uma Rodada
Direção: Thomas Vinterberg
Ano: 2020
Gêneros: Comédia/Thriller
Nota: 9/10