Ganhador de 7 Oscars em 2024, o filme mais elogiado da última década acaba de estrear no Prime Video

Ganhador de 7 Oscars em 2024, o filme mais elogiado da última década acaba de estrear no Prime Video

Há muitas ressalvas a serem feitas acerca de “Oppenheimer”, bem como alguns elogios sinceros. O nada bombástico longa de Christopher Nolan sobre o físico americano que desenvolveu o artefato mais mortífero já concebidos pelo homem é um filme bastante previsível, a despeito de narrar uma história de há muito conhecida de 99% da população mundial; prolixo, mesmo que suas imagens terminem por compensar a demoradíssima espera pelo desfecho — ou mesmo pelos lances mais sublimes —; um tanto confuso em seus despejamentos maciços de informações sobre o público. Mas é também denso e poético em seus milhões de detalhes certeiros sobre a vida de 

Julius Robert Oppenheimer (1904-1967), o cientista mais importante do século 20 depois de Albert Einstein (1879-1955), cujas ideias foram simplesmente fundamentais para que chegasse ao objetivo de que trata Nolan, da mesma forma que os estudos de Isaac Newton (1643-1727) e Hendrik Lorentz (1853-1928) guiaram o alemão até suas incontestáveis Teoria da Relatividade Restrita e a da Relatividade Geral, de 1905 e 1915, respectivamente.

Apesar de uma peça moldada no fogo brando da tecnologia, o grande trunfo de “Oppenheimer” — uma astuta versão cinematográfica para o texto fluido do jornalista Kai Bird e do historiador Martin Jay Sherwin (1937-2021), autores de “Oppenheimer: O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano”, a biografia publicada em 2005 pela receberam o Prêmio Pulitzer — são mesmos os rostos, as risadas, os gritos, os olhares, as relações interpessoais mais básicas, elementos que, em certa medida, vão tornando mais clara a angústia do personagem central, talvez feito mais interessante do que os registros mostram. 

O diretor-roteirista volta a algumas quadras determinantes na vida de Oppenheimer, como se de uma hora para a outra fosse tragado pela tempestade solar com que Nolan ilustra o prólogo. Esse Prometeu moderno que ousa roubar o fogo do conhecimento, mas não o toma só para si, repartindo-o com o resto do planeta numa ação que uns ingênuos até hoje questionam, foi um estudante medíocre, até bastante atrapalhado, que vai achando seu rumo por seus próprios esforços, sensação de desajuste que Nolan faz questão de frisar em primeiríssimos planos do semblante tranquilo de um ator seguro.

O espectador se defronta com os grandes olhos claros de Cillian Murphy mesmo nas sequências em que Oppenheimer, já um intelectual e um homem da ciência reconhecido com todo o mérito, é acossado pelos membros da Comissão de Energia Atômica (AEC na sigla em inglês) do Senado americano, presidida pelo almirante Lewis Strauss (1896-1974), representante da Virgínia Ocidental na Câmara Alta do parlamento pelo Partido Republicano. O diretor aparta essa fase de debacle moral da parcela fulgurante da jornada de Oppenheimer com o acertado preto e branco de Hoyte van Hoytema, que faz excelente uso do IMAX também nas cenas em que o físico voa alto na condução dos experimentos para se atingir a tão falada bomba de fissão nuclear, que mereceria um filme para chamar de seu pela supina importância na história recente da civilização.  

O relacionamento pleno de nuanças entre Oppenheimer e Strauss, de Robert Downey Jr. é, sem nenhum exagero, o eixo do trabalho de Nolan — e não por acaso seus intérpretes acabaram levando para casa seus Oscar, de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante, junto com a estatueta de Melhor Filme e Melhor Diretor. No começo um entusiasta da brilhante carreira do físico, o republicano toma-lhe uma aversão à primeira vista inexplicável, mas que a diligente performance de Downey Jr. cuida de justificar.

“Oppenheimer” opera em torno de duas datas, o 1º de setembro de 1939 da invasão alemã à Polônia e da divisão do átomo, e 21 de dezembro de 1953, quando a AEC formaliza as 34   acusações contra a figura que mais colaborou para o trágico encerramento da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o bombardeio das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto de 1945. Sem Oppenheimer, não teria sobrado ninguém. Julius Robert Oppenheimer (1904-1967) morreu aos 62 anos, em 18 de fevereiro de 1967, desgostoso, incompreendido, covardemente difamado. O câncer de laringe de um fumante convicto foi só um detalhe. 


Filme: Oppenheimer 
Direção: Christopher Nolan  
Ano: 2023 
Gênero: Drama/Suspense 
Nota: 9/10