Ignorado pelo público, suspense que foi aplaudido de pé no Festival de Sundance está na Netflix Divulgação / XYZ Films

Ignorado pelo público, suspense que foi aplaudido de pé no Festival de Sundance está na Netflix

Alfred Hitchcock, cuja vida se estendeu de 1899 a 1980, estabeleceu um novo paradigma no cinema com “Psicose“, em 1960. Este filme não apenas abriu portas para uma nova forma de contar histórias, mas também liberou uma onda de criatividade entre diretores em todo o mundo. As tramas que se seguiram frequentemente mergulhavam na complexidade de personagens que eram, ao mesmo tempo, vilões e vítimas, refletindo sobre os ciclos de violência que os formaram. Este enfoque dual provocou um fascínio perturbador, levantando questionamentos sobre culpa, redenção e a natureza humana. 

Nesse contexto, “Ted Bundy: A Confissão Final“, dirigido por Amber Sealey, explora a figura do infame Theodore Robert Bundy (1946-1989), com uma abordagem que mescla realismo ficcional e estilística documental, oferecendo ao espectador uma visão íntima sem glamorizar sua história. Anteriormente, em 2019, Joe Berlinger havia capturado a complexidade de Bundy em “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal“, destacando a contradição entre seu charme superficial e as sombras que escondia. 

A performance de Luke Kirby, encarnando Bundy, rompe com os clichês ao apresentar uma figura que desafia fácil categorização, proporcionando um olhar mais profundo e matizado sobre o que motiva um assassino em série. Sua interação com Bill Hagmeier, interpretado por Elijah Wood, é um dos pilares do filme, marcada por diálogos densos que revelam as profundezas de suas psiques. Curiosamente, o filme opta por não detalhar os crimes de Bundy, uma escolha que enriquece a narrativa ao focar na interação humana e nos conflitos morais. 

A cinematografia de Karina Silva envelhece as imagens de forma a envolver o espectador, nunca permitindo que a atenção se desvie dos intricados diálogos e da complexidade emocional da história. A relação entre Kirby e Wood se desdobra em uma dança entre razão e loucura, com momentos em que a linha entre o analista e o sujeito de análise se torna turva. 

Ao longo de vários anos, a interação entre Bundy e Hagmeier revela não apenas os detalhes macabros dos crimes de Bundy, mas também a humanidade distorcida que residia por trás de seus atos. A tensão entre a busca por compreensão e o repúdio aos seus atos permeia o filme, culminando numa narrativa que evita qualquer romantização do criminoso. Theodore Robert Bundy, aguardando clemência até o último momento, enfrenta a justiça final na cadeira elétrica, um desfecho que ecoa as sombrias realidades exploradas pelo filme. 


Filme: Ted Bundy: A Confissão Final
Direção: Amber Sealey
Ano: 2021
Gêneros: Crime/Drama
Nota: 9/10