Indicado apenas para maiores de 18, filme de ação da Netflix é o mais alucinante do cinema nos últimos 2 anos Son Ik-chung / Netflix

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“Carter”, uma criação de Jung Byung-Gil, da Coreia do Sul, explora o dilema da fragilidade humana diante do avanço tecnológico, onde este serve tanto como salvaguarda quanto como algoz. A trama se desenrola de maneira áspera desde o início, revelando seu personagem principal em meio a caos numa sauna, recuperando-se de um longo período de inconsciência. Inspirado por obras como “Nikita: Criada Para Matar” (1990) de Luc Besson e “A Vilã” (2017), “Carter” estende-se além de ser apenas uma narrativa de violência sem significado ao incorporar no personagem de Joo Won traços de uma postura politicamente engajada, desafiando-o a adaptar-se a uma nova realidade e proteger um jovem que, como ele, está deslocado, reavivando memórias de uma vida passada com lar e família. Com o avançar da trama, introduz-se a figura de sua filha, que ele anseia reencontrar a todo custo, diante da iminência de uma tragédia.

A trama também reflete sobre a traiçoeira natureza da memória, que pode ser mais enganosa que os jogos da mente, que por sua vez, possuem suas justificativas, como o descarte de lembranças inúteis ou nocivas. O filme coloca em evidência o desconforto em torno de Carter, na verdade chamado Michael Bane, um agente oscilante entre a CIA e o NIS sul-coreano, atormentado pela dependência de um dispositivo móvel que o ancora à realidade. Jung Byung-Gil, com uma abordagem instrutiva, destaca que Carter está preso a esse dispositivo por ter uma bomba implantada em um dente, aumentando assim seu tormento.

As perseguições são capturadas com uma estética peculiar de enquadramentos circulares, ampliando a sensação de desordem social, culminando em cenas intensas de confronto. Nesse cenário, a trama prevalece sobre todos os aspectos, narrando a desadaptação de um homem ao seu destino, tornando até mesmo um possível romance secundário.

Em certos pontos, o uso exagerado de efeitos visuais pode comprometer a emoção, contudo, a atuação de Woo mantém o engajamento do público, demonstrando a importância da presença do ator para trazer vivacidade à uma história marcada por uma certa frieza e uma abordagem técnica minuciosa. O filme deixa transparecer o cansaço em relação ao conflito geopolítico envolvendo as Coreias e os Estados Unidos, levando Jung a optar por uma perspectiva audaciosa e um tanto peculiar para tratar também deste tema.


Filme: Carter
Direção: Jung Byung-Gil
Ano: 2022
Gênero: Ação/Suspense
Nota: 8/10