A maior história de amor do cinema mundial dos últimos 50 anos está na Netflix Divulgação / Sony Pictures Classics

A maior história de amor do cinema mundial dos últimos 50 anos está na Netflix

Woody Allen, com sua habilidade única de envolver o espectador em uma atmosfera encantada, novamente captura nossa atenção ao revelar a magia escondida nas dobras do cotidiano. Em seu 41º projeto cinematográfico, Allen nos convida a considerar a vida como um mosaico repleto de oportunidades e ensinamentos valiosos, apesar de nossas frequentes falhas em reconhecer as mensagens que o universo tenta nos transmitir. “Meia-Noite em Paris” (2011), uma das obras mais emblemáticas de Allen, serve como um lembrete eloquente dessa mensagem.

Gil Pender, um escritor à beira de um colapso nervoso, encarna as reflexões de Allen sobre si mesmo e, por extensão, sobre todos nós que mergulhamos em sua narrativa. Pender está no limiar de abandonar seus sonhos, ainda que inconscientemente, e sem um plano claro. O roteiro, recheado de insights brilhantes transformados em diálogos afiados e reflexões filosóficas, nos guia pela complexidade da existência de Pender até uma conclusão surpreendentemente harmoniosa. Owen Wilson, geralmente conhecido por performances variáveis em filmes de menor complexidade, entrega aqui uma atuação notável, amarrando uma trama com elementos distintos que se conectam de maneiras sutis e inesperadas. “Meia-Noite em Paris” nos leva em uma jornada fluida entre o presente e o passado, sem nunca nos fazer questionar sua lógica — porque, intuitivamente, entendemos que faz todo o sentido.

O desenvolvimento do enredo de Pender serve de base para Allen explorar temas mais profundos. Pender, que até então escrevia roteiros para sucessos comerciais vazios, almeja produzir uma obra literária que o consagre como um verdadeiro artista, em um gesto que parece autodepreciativo vindo de Allen. O protagonista se encontra em uma rota de colisão com sua noiva materialista, Inez, interpretada por Rachel McAdams. Inicialmente, esperamos por uma reconciliação, mas logo percebemos que tal união seria fútil. Quando Pender opta por não acompanhar Paul, interpretado por Michael Sheen, em uma noitada tipicamente americana em Paris, ele cruza um limiar simbólico, aproximando-se das figuras históricas que Allen reverencia no filme: Zelda e F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, a crítica de arte Gertrude Stein e seu círculo íntimo, incluindo personalidades como Pablo Picasso, Salvador Dali, entre outros.

O foco principal de Allen, contudo, reside na armadilha da insatisfação com nossa própria era, no perigo de ficarmos presos em um tempo que não nos pertence. Allen propõe que o tempo e o mundo são moldados por nossas ações e percepções. “Meia-Noite em Paris” não é apenas um filme, é uma reflexão sobre como viver plenamente, especialmente em tempos sombrios como os atuais.


Filme: Meia-Noite em Paris
Direção: Woody Allen
Ano: 2011
Gêneros: Ficção científica/Fantasia/Romance/Comédia
Nota: 10/10