Filme existencialista sobre solidão e autoconhecimento na Netflix, vale cada segundo do seu final de semana Divulgação / Harrison Productions

Filme existencialista sobre solidão e autoconhecimento na Netflix, vale cada segundo do seu final de semana

Adolescentes frequentemente demonstram uma maturidade e perspicácia que surpreendem até mesmo seus progenitores. Debra Granik tem o dom de capturar a essência da juventude, navegando pelas turbulências dessa fase com maestria. Isso ficou evidente em “Inverno da Alma” (2010), onde Jennifer Lawrence brilhou como uma jovem responsável por sua família, rendendo-lhe reconhecimento e indicações ao Oscar. Granik, não satisfeita, decidiu ir além em “Sem Rastros”, uma escolha que se provou acertada.

Neste cenário, encontramos Will e Tom, pai e filha, vivendo isolados em uma reserva florestal perto de Portland, felizes longe do tumulto da cidade. No entanto, as autoridades veem com maus olhos aqueles que escolhem viver fora dos padrões sociais, forçando-os a abandonar seu refúgio. A história segue com a tentativa de adaptação de Will e Tom à supervisão estatal, um processo que ambos resistem, desejosos de retornar à tranquilidade anterior.

Ben Foster, reconhecido por interpretar personagens à margem da sociedade, entrega mais uma atuação notável. Seu papel como Will, assim como em “A Qualquer Custo” (2016), mescla a dureza com um toque de humanidade, criando uma personagem complexa e profunda. Will não é um pai negligente, mas suas ações, vistas sob uma lente psicológica, revelam camadas mais sombrias.

A jovem Tom, interpretada por Thomasin McKenzie, representa a sensatez diante da postura perturbada de Will, um veterano de guerra marcado pelos horrores enfrentados. Ao longo do filme, Tom sinaliza o peso da vida nômade, especialmente em momentos de simplicidade e humor, como a cena em que, após uma refeição modesta, expressa sua fome insaciada, um momento que ressoa com qualquer um que tenha vivenciado a adolescência.

Essa narrativa desenvolve a tensão entre a busca de Will por isolamento e a crescente necessidade de Tom por uma vida mais convencional. A relação entre pai e filha, embora cheia de amor, é posta à prova pelas diferenças irreconciliáveis em suas visões de mundo. A intervenção do serviço social tenta oferecer novos começos, mas Will luta contra a assimilação, arrastando Tom em sua resistência até que ela, por sua vez, anseia por uma existência mais estável.

Ao desvendar as camadas dessa história rica e complexa, revela-se uma verdade áspera: em nossa jornada, algumas relações, por mais caras que sejam, devem ser deixadas para trás. O caminho adiante pode parecer árduo, mas com o tempo, a estrada se alisa, e ao olhar para trás, reconhecemos o que poderíamos ter nos tornado se não tivéssemos feito as escolhas difíceis. A saudade é uma dor que, paradoxalmente, nos liberta e nos permite seguir em frente.


Filme: Sem Rastros
Direção: Debra Granik
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Mistério
Nota: 8/10