Drama belíssimo e comovente, na Netflix, que foi cotado ao Oscar e foi aplaudido no Festival de Berlim Divulgação / Limerencia

Drama belíssimo e comovente, na Netflix, que foi cotado ao Oscar e foi aplaudido no Festival de Berlim

Quanto menos efeitos especiais e mais simplicidade, mais é possível perceber a riqueza das histórias que se conta através das lentes. O segundo filme da cineasta mexicana Lila Avilés, “Tótem”, na Netflix, foi cotado para o Oscar 2023, mas acabou ficando de fora da premiação, que neste ano está bastante competitiva. Filmes como este nos fazem pensar em como algumas escolhas da Academia são equivocadas. “Tótem” deveria estar lá.

Com tamanha sensibilidade, Avilés narra a história de uma família que vive na faixa limítrofe entre a vida e a morte, a celebração e o luto. Tonatiuh (Mateo Garcia) está com um câncer terminal e vive seus dias lidando com a dor e com as limitações físicas de uma pessoa que não consegue mais ir ao banheiro sozinha. Sabendo que esta pode ser a última festa de aniversário de Tonatiuh, sua família se reúne na casa do patriarca da família, Roberto (Alberto Amador), para comemorar o aniversário dele. Enquanto isso, a filha de Tonatiuh, a pequena Sol (Naíma Sentíes), percebe tudo.

Crianças são extremamente inteligentes e sensitivas, por mais que tentemos blindá-las das realidades duras e cruéis do mundo. Elas parecem não escutar as conversas, mas escutam. Elas parecem não perceber as mudanças, mas percebem. Tudo as afeta de uma forma extremamente íntima e traumática. Sol sabe que seu mundo está prestes a ser transformado e que pode chegar o momento em que ela verá seu pai pela última vez.

Este filme de Avilés parece tão informal, íntimo e sincero. Parece ter sido gravado em uma casa comum, com uma família qualquer. Mas, em hipótese alguma, quer dizer que o filme é desleixado. Não. São justamente estas características que o permitem ser tão visceralmente tocante. Poderia ser nossa casa, nossa família.

Os sorrisos de Tonatiuh com os olhos embargados e tristes, durante uma doce conversa com Sol e a mãe da menina, Lucia (Iazua Larios), revelam o tom de despedida, ao mesmo tempo em que há uma alegria pela reunião familiar tão derradeira.

Embora o filme dedique boa parte de seu tempo organizando um evento para despedir e celebrar Tonatiuh, o personagem é o que menos aparece na tela. É pelos olhos de Sol que enxergamos a casa e o mundo, escutamos a família discutindo os gastos com tratamentos médicos sem solução. Os adultos tentam implementar códigos às palavras reveladoras, enquanto a verdade já não tem mais remédio. Tonatiuh evita ver a filha para que ela não se lembre dele por sua fragilidade e dor, mas Sol pensa que o pai apenas não quer vê-la, que não a ama.

Enquanto esses personagens extremamente realistas perambulam, conversando alto, discutindo, rindo e chorando, quase incendiando a casa com um balão de gás, nos lembramos de nossa própria existência e refletimos sobre a brevidade do mundo e a morte. Em meio a tanto amargor, encontramos na doçura das crianças um motivo para encobrir a dor, fingir um sorriso, despedir com uma festa. “Tótem” é uma expressão tão pura das famílias, das rotinas e da simplicidade das coisas que tornam a vida grande e maravilhosa.


Filme: Tótem
Direção: Lila Avilés
Ano: 2023
Gênero: Drama
Nota: 10