Frank Grillo fará você desligar o cérebro por 87 minutos em filme na Netflix que vale cada segundo do seu tempo Patti Perret / Netflix

Frank Grillo fará você desligar o cérebro por 87 minutos em filme na Netflix que vale cada segundo do seu tempo

“À Queima-Roupa” é um formidável caos — e o mais impressionante é que dá certo. A corrupção policial é o fio por onde passa muito da tensão do filme de Joe Lynch, o remake do thriller homônimo do francês Fred Cavayé lançado em 2010, mas, mas nesta versão, Lynch parece captar os voláteis desejos do espectador quanto a incrementar cenas de assumida violência, suavizadas aqui e ali graças ao talento da dupla de protagonistas.

O excelente roteiro de Cavayé, Adam G. Simon e Guillaume Lemans aposta em passagens ambivalentes, condenando e absolvendo a conduta dos dois ao sabor das circunstâncias, exatamente pela dominância de tipos mil vezes mais nocivos ao tecido social, traças que chocam seus ovos no seio das instituições, alimentando-se da mudez dos justos e da leniência de seus superiores, atarantados em meio a planos inúteis de comprovados malogros.

O homicídio misterioso de Joshua Gregory, um promotor-assistente de Cincinnati, Ohio, nordeste dos Estados Unidos, deixa a cidade em alerta. Abe, uma figura do submundo em torno da qual boa parte do filme gira, corre com um pen drive, fugindo da cena de outro crime, que pode ter relação com o assassinato de Gregory, mas o diretor esconde o quanto consegue suas reais intenções, contando com Frank Grillo para manter cada vez mais vívido o interesse do público pela história.

Abe tem tanta pressa porque o irmão, Mateo, de Christian Cooke, depende de uma transação envolvendo o dispositivo que Lynch só vai explicar no terceiro ato, e assim mesmo a narrativa não arrefece um segundo. O personagem de Grillo é atropelado, vai parar no hospital em que trabalha Paul Booker, o enfermeiro interpretado por Anthony Mackie, e o encontro dos dois, pleno de lances trágicos para Paul, desdobra-se em sucessão de impiedosos contratempos, em especial quando se sabe que Taryn, a esposa dele, está na reta final de uma gravidez delicada.

Teyonah Parris fica um bom pedaço do filme aparecendo na medida das lembranças dos momentos felizes do mocinho de Mackie, enquanto a trama enfronha-se mais e mais no noir, tirando o véu de personagens que outrora receberiam o selo de homens e mulheres acima de qualquer suspeita, feito se o diretor se imbuísse de um espírito justiceiro e se dedicasse a expor as mazelas da polícia — as principais, ao menos —, as mais intestinas, as mais escandalosas.

Na pele da detetive Regina Lewis, Marcia Gay Harden dá o show de costume, guardando os segredos mais ou menos cabeludos, que ganham a devida a atenção da imprensa com a ajuda providencial de Abe e sua habilidade com aparelhos eletrônicos. Os últimos minutos se arrastam um tanto depois da revelação do bandido, mas duas sequências diametralmente opostas imprimem beleza ao todo quando as coisas pareciam meio cinzentas demais.


Filme: À Queima-Roupa
Direção: Joe Lynch
Ano: 2019
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10