Mais vista em 80 países, história real mais estranha que ficção está na Netflix Divulgação / Netflix

Mais vista em 80 países, história real mais estranha que ficção está na Netflix

Escrito e dirigido por Bernadette Higgins e Felicity Morris, “Um Pesadelo Americano” revela um crime real e recente, ocorrido em 2015, em Vallejo, na Califórnia. A história é tão incrível quanto ridícula. Revoltante, também. Ela mostra como a autoconfiança das autoridades policiais pode ser seu ponto de tropeço. Um misto de incompetência e ego da polícia de Vallejo, que é confundida por um caso incomum. Depois de uma ligação para a emergência, o jovem Aaron Quinn vai parar em uma sala de interrogatório. Ele, que tinha absoluta certeza de ter sido vítima, passa a ser tratado como principal suspeito pelo desaparecimento de sua namorada, Denise Huskins.

Tudo começa quando no meio de uma madrugada, a casa de Aaron é invadida por estranhos em roupas de mergulho. Ele é amarrado e dopado, enquanto sua namorada é colocada no porta-malas do carro e levada como refém por essas pessoas misteriosas. No dia seguinte, quando Aaron acorda e liga para a polícia, é tratado como principal suspeito e coagido por tiras a admitir um crime que ele nunca cometeu. Os policiais parecem convencidos de que Aaron assassinou Denise, depois de uma discussão por conta da ex-namorada, Andrea, e elaborou um plano para justificar o desaparecimento, que teria sido a invasão da casa e o sequestro dela. Mantido preso por quase dois dias, enquanto era duramente interrogado, Aaron viu seu mundo virar de cabeça para baixo.

O caso logo ganhou repercussão nacional. Aaron foi crucificado na mídia e até a família de Denise começou a acreditar que ele poderia ter relação com o desaparecimento. Até que 48 horas depois da invasão à casa de Aaron, Denise reaparece, aparentemente ilesa, e bate na porta da casa do pai, em outra cidade. Helicópteros de telejornais, repórteres e câmeras tomam conta da calçada da casa do pai da recém-aparecida para repercutir seu retorno. A polícia, então, quer explicações sobre onde ela estava e o que teria acontecido nos dois dias em que esteve sumida.

Para a surpresa de Denise, os policiais começaram a tratá-la como uma aproveitadora fraudulenta, alguém que forjou o próprio sequestro para tentar, quem sabe, fazer com que Aaron pagasse por seu resgate. Os rumos inesperados da história também viram notícia nacional. O detetive à frente do caso anuncia para a mídia que Denise desperdiçou recursos públicos fazendo-os procurá-la em um falso sequestro, embora o laudo do exame de corpo de delito tenha sido de que ela sofreu violência sexual. Até mesmo o FBI, que entrou nas investigações, comprou a ideia de que ela era uma espécie de Amy, do filme de David Fincher, “Garota Exemplar”. Parece mesmo bem ridículo que as autoridades de segurança decidiram embasar suas investigações em ficção de cinema que em evidências reais.

A polícia simplesmente decidiu ignorar os testemunhos de Aaron e Denise, que eram idênticos quando relacionados à invasão da casa, e os resultados de testes de polígrafo e corpo de delito que foram realizados com as vítimas. Os dois foram difamados por todos os canais e veículos midiáticos. A vida do casal virou um pesadelo da noite para o dia. Denise, que conta sua versão da história, faz um desabafo sobre os dois dias aterrorizantes e angustiantes que vivenciou sob a mira de um ex-militar que a estuprou duas vezes e filmou a violência sexual para poder ameaçá-la posteriormente, caso ela revelasse sua identidade à polícia.

Denise viveu uma experiência extremamente dolorosa e traumática, ainda mais que seu companheiro, porque além de sofrer a violência por dois dias por parte do sequestrador, também foi atacada pela polícia e pela mídia. O filme dividido em três partes demonstra com muita clareza a falta de responsabilidade com a verdade e a total incompetência das autoridades e da imprensa. Eu poderia dizer que foi um caso sem precedentes, mas não tenho certeza, afinal, a América é cheia de histórias reais mais impressionantes que a ficção.

Higgins e Morris fazem o favor de relembrar quem conheceu o caso e informar quem ainda não sabia da história sobre a gigantesca injustiça cometida. Sem dúvidas, uma das histórias mais intrigantes, surreais e revoltantes que já conheci na vida.


Filme: Um Pesadelo Americano
Direção: Bernadette Higgins e Felicity Morris
Ano: 2024
Gênero: Policial/Suspense/Drama
Nota: 9/10