O filme, que Zac Efron considera como sua melhor atuação, está no Prime Video Divulgação / Altitude Film Entertainment

O filme, que Zac Efron considera como sua melhor atuação, está no Prime Video

Dissociar o homem de sua ganância, que por seu turno vem muitas vezes escondida sob o manto exuberante da natureza, é tarefa pretensiosa para qualquer filme, de modo que nem sempre bastam boa direção, elenco afinado e uma edição cuidadosa liquidam a fatura, em produções que acabam por testar a paciência do espectador.

Grosso modo, esse é o problema de “Gold”, uma história tão complexa que simplesmente não é capaz de abranger boa parte dos conflitos que encerra, a começar pelos que envolvem só o vasto espírito do personagem central, um homem bom, disposto a renúncias desumanas para alcançar o prêmio que talvez mude a sua vida. Anthony Hayes, o diretor, corroteirista e coestrela, depende de recursos técnicos como a fotografia de Ross Giardina para conferir o estranhamento que a história pede, reforçando os tons sombrios que espelham a alma daquela gente, cativa de um pesadelo minimalista que alude ao próprio inferno. Além, claro, de um astro que tem se empenhado em ser muito mais que isso.

Zac Efron sai de sua condição de menino bonito para assumir a imagem de um sujeito amargurado, de barba espinhenta, cabelo em desalinho, fisionomia abatida e pele bexigosa. Talvez seu esforço quanto a sufocar o galã Troy Bolton da franquia“High School Musical”, ou tipos dados a fanfarronadas, como em “Vizinhos” (2014), dirigido por Nicholas Stoller, tenha sido notado com mais atenção depois de seu louvável desempenho na pele do personagem-título de“Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal” (2019), de Joe Berlinger, o assassino em série das mulheres que namorava celebrizado nos anos 1970.

Aqui, Efron vira um lunático inofensivo, chamado apenas pela alcunha de o Homem Um, cruzando um deserto pós-apocalíptico, sem eira nem beira, dizendo um ou outro xingamento, até dar com um posto de gasolina arruinado, onde encontra Keith, o Homem Dois de Hayes — e aí começam de fato os problemas de “Gold”. 

Os dois caminham por campos deformados que lembram a superfície lunar, metáfora arguta com que o diretor aponta a extinção iminente do ser humano. Hayes aproveita o gancho para mencionar que oHomem Um é “do Ocidente”, o jeito irônico como os sobreviventes se referem àqueles que têm uma origem menos simples, e a convivência dos dois trânsfugas, remanescentes de alguma guerra devastadora sobre a qual o enredo não diz muito, passa a se deteriorar a olhos vistos quando da descoberta do que parece uma imensa jazida de ouro, que só poderá ser explorada mediante uma operação que vai exigir que depositem um no outro a confiança que já não têm em si mesmos. Desse ponto à frente, o filme é tragado por uma pletora dos clichês do gênero, com a agravante de que o trabalho de Hayes jamais alcança o nível de Efron.

A terceira andarilha, de Susie Porter, serve de um respiro dramático um tanto breve demais, sobretudo para uma narrativa que o onipresente diretor queria semelhante a “Náufrago” (2000), o clássico de Robert Zemeckis, “Até o Fim” (2013), levado à tela por J.C. Chandor, ou “Vidas à Deriva” (2018), dirigido por Baltasar Kormákur. Uma andorinha solitária não salva o mundo.


Filme: Gold
Direção: Anthony Hayes
Ano: 2022
Gêneros: Thriller/Ação
Nota: 7/10