Em “A Sociedade da Neve”, o diretor J.A. Bayona leva a tela um episódio histórico que ressoa na memória coletiva: o acidente aéreo de 1972 na Cordilheira dos Andes. A narrativa, ancorada no livro de Pablo Vierci, desdobra-se com intensidade e realismo, mergulhando nos aspectos mais íntimos e sombrios da condição humana.
Bayona, conhecido por seus trabalhos anteriores em Hollywood, não se intimida ao retratar a luta visceral pela sobrevivência dos 29 uruguaios, integrantes de um time de rúgbi, após o acidente que os deixou isolados nas gélidas montanhas. O diretor espanhol utiliza a tragédia para explorar temas como solidariedade, resistência e a dura decisão de recorrer à antropofagia para sobreviver. Este último aspecto, embora delicado e controverso, é tratado com a seriedade necessária, sem cair em sensacionalismos desnecessários.
A cinematografia, sob a direção de Pedro Luque Briozzo Scu, é notável na construção de uma atmosfera de desolação e desespero. A paleta de cores, dominada por tons de azul e branco, reflete a crueldade do ambiente e a angústia dos sobreviventes, amplificando o impacto emocional da história.
Personagens como Roberto Canessa e Numa Turcatti, interpretados respectivamente por Matías Recalt e Enzo Vogrincic, são fundamentais para a narrativa. Eles representam diferentes facetas da experiência humana em situações extremas: liderança, esperança, sacrifício e resignação. A transformação de Numa, em particular, simboliza a luta interna entre a moralidade e a necessidade de sobrevivência, adicionando profundidade ao filme.
A edição, eficaz na construção da tensão, especialmente na sequência do acidente, contribui para uma experiência imersiva. Apesar de ser um relato de uma tragédia já conhecida, Bayona consegue infundir nova vida à história, evitando repetições e trazendo um olhar contemporâneo para o evento.
O filme também aborda o retorno dos sobreviventes à civilização, um aspecto menos explorado, mas não menos importante. A adaptação a uma realidade normal após uma experiência tão extrema é tratada com sensibilidade, destacando o trauma psicológico e físico sofrido pelos personagens.
“A Sociedade da Neve” de Bayona é uma obra que desafia o espectador, convidando-o a refletir sobre a complexidade da natureza humana em situações de vida ou morte. Através de uma direção precisa e performances convincentes, o filme não apenas conta uma história de sobrevivência, mas também de transformação e resiliência humana.
Filme: A Sociedade da Neve
Direção: J.A. Bayona
Ano: 2023
Gêneros: Thriller/Aventura/Drama
Nota: 9/10
