O filme que todas as pessoas deveriam assistir no primeiro dia do ano Divulgação / Warner Bros

O filme que todas as pessoas deveriam assistir no primeiro dia do ano

O pensador espanhol Miguel de Unamuno propôs que a vida se entrelaça com esquecimentos, um conceito que Federico Fellini, com sua visão única, tanto refuta quanto apoia. A infância, esse refúgio encantador que oferece consolo em tempos árduos, revela-se uma fonte de memórias seletivas. Escolhemos o que queremos lembrar, quais momentos menos agradáveis preferimos ignorar, e quais experiências decidimos valorizar em nossa jornada.

Nas reminiscências da juventude, percebemos um mosaico de momentos distintos: as brincadeiras, as conversas com amigos, o aroma dos bolos feitos pela avó, as reprimendas de professores rígidos. Tudo isso nos é revelado com um toque de fantasia, onde a credibilidade das memórias se mescla com a dúvida. O mundo, assim, se transforma em um palco cinematográfico, onde a linha entre realidade e sonho se torna tênue.

Em “Amarcord” (1973), Fellini manifesta seu desejo de sonhar e convida o espectador a compartilhar desse devaneio. O filme é uma colagem de lembranças da infância, misturadas com aventuras da adolescência, onde a realidade e a fantasia coexistem sem barreiras. Isso se contrapõe ao seu trabalho anterior, “Roma” (1972), que apresentava um enredo mais linear e adulto.

“Amarcord” flutua no tempo, alternando entre o factual e o especulativo. Sequências detalhadas sugerem autenticidade, enquanto outras partes mergulham no surrealismo. Fellini retrata personagens e eventos com uma perspectiva de caricatura, criando um contraste entre o mítico e o bizarro. A política e os eventos sociais são tratados como enigmas, destacando-se mais por sua pompa do que por sua substância.

Diferentemente de outros filmes de Fellini, como “Satyricon” (1969) e “Roma”, “Amarcord” se concentra em personagens específicos e segue uma direção narrativa única. A história aborda temas familiares e a sexualidade emergente de Titta, o protagonista, em relação às mulheres de sua cidade. A família de Titta exemplifica os estereótipos de uma família italiana: numerosa, barulhenta, sentimental.

O filme começa com um plano-sequência que alterna entre dia e noite, revelando a vida de Titta. À medida que a história progride, Fellini enfatiza cenas noturnas, criando um ambiente de indefinição. A fotografia se torna mais sombria, e a narrativa acelera, envolvendo o espectador. Conforme Titta amadurece, as cores e a inocência desaparecem, e os conflitos se tornam mais introspectivos.

“Amarcord” é uma celebração da juventude de Fellini, ambientada no vilarejo de Rimini dos anos 1930. Apesar de abordar o fascismo de Mussolini, o filme mantém um tom leve. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1973, “Amarcord” é um dos trabalhos mais líricos de Fellini, harmonizando cinematografia, figurinos, cenários e música, e permanecendo uma lembrança doce da vida.


Filme: Amarcord
Direção: Federico Fellini
Ano: 1973
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 10/10
Onde assistir: NetMovies