Caótico e surreal, terror que acaba de chegar à Netflix vai te fazer tomar calmante para conseguir dormir Divulgação / Telfaz11

Caótico e surreal, terror que acaba de chegar à Netflix vai te fazer tomar calmante para conseguir dormir

Ambientado em Riad, “Perdida no Deserto” é um thriller saudita de Meshal Al Jaser, que narra a história de Sarah (Adwa Bader), uma jovem rica que, como várias outras garotas muçulmanas, vive sob um regime machista extremamente opressivo. A cada passo que dá, seus pais precisam saber onde ela está. Além disso, seu toque de recolher é extremamente rígido. Então, ela sai para ir às compras com a amiga Hadeel (Miriam Alshagrawi). Na verdade, tudo não passa de desculpas para que ela possa se encontrar escondido com o namorado secreto, Saad (Yazeed Almajyul), que pretende levá-la para uma festa no deserto. No entanto, Sarah precisa estar de volta antes que seu pai a busque no lugar combinado às 22h. Parece exagerado, mas ela realmente acredita que seu pai é capaz de matá-la, caso não esteja no local na hora marcada.

Tudo dá errado muito rápido. Saad se perde no caminho, eles são aterrorizados por um caminhoneiro na rodovia, testemunham três bandidos em quadriciclos atacarem um caminhão de sorvete e atropelam e matam um camelo até finalmente encontrarem o lugar da festa. As horas passam e Sarah perde ligações da mãe no celular, que acaba ficando sem bateria. Ela bate-boca com uma menina no evento, briga com o namorado, passa por uma batida policial e, de repente, o camelo que havia sido morto no caminho retorna para assombrá-la e se vingar. 

Há muito caos acontecendo e o filme exercita tudo isso com referências do cinema B americano. A mistura do álcool e das luzes estouradas fazem os rostos borrarem e se deformarem, como se as pessoas fossem monstros. Tudo é estranho e todos parecem suspeitos. Sarah está correndo contra o tempo, mas cada vez mais percalços surgem em seu caminho e a distancia do ponto onde deveria encontrar o pai. No deserto, uma sensação de claustrofobia toma conta. As câmeras correndo e se movimentando junto com a personagem reforçam o tom de urgência e medo. Al Jaser é ousado o bastante para tumultuar e trazer sequências cheias de energia anárquica e cada vez mais surpreendentes e surreais.

Bader interpreta sua Sarah com muita autoconfiança, até porque a personagem é corajosa, forte, decidida e, algumas vezes, até ríspida. Mesmo assim, ela não perde a vulnerabilidade, já que é apenas uma garota perdida no deserto e sujeita a todo tipo de perigos. Sentimos uma angústia e preocupação genuína pela protagonista.  Só que apesar das inúmeras ameaças que a rondam, o maior perigo que ela corre é o de não chegar a tempo e seu pai descobrir sua aventura fora dos limites estabelecidos. O maior risco de seu mundo é o patriarcado.

Embora dialogue com filmes trash, a obra de Al Jaser é elegante, estilizada e com cara de caro. Há esculachos, mas são sutis o suficiente para não comprometer a qualidade estética. No entanto, é prolixo. São tantos os minutos desnecessários que só prolongam e nada acrescentam de relevante à história. Tudo bem. Al Jaser tem apenas 28 anos de idade e este é seu primeiro longa-metragem. Parece um excelente ensaio de uma carreira cheia de potencial.


Filme: Perdida no Deserto
Direção: Meshal Al Jaser
Ano: 2023
Gênero: Comédia/Terror
Nota: 8/10