Aplaudido pela crítica: novo filme da franquia do anti-herói mais amado cinema, com Keanu Reeves, acaba de chegar no Prime Video Murray Close / Lionsgate

Aplaudido pela crítica: novo filme da franquia do anti-herói mais amado cinema, com Keanu Reeves, acaba de chegar no Prime Video

Pela excelência do trabalho de Keanu Reeves em “John Wick 4: Baba Yaga”, pode-se suspeitar com boa margem de acerto que a franquia está longe de uma conclusão definitiva — o que não deixa de abrigar alguns problemas. Reeves segue muito confortável naquele que pode ser seu personagem mais complexo, mais refinado, mais esmeradamente construído, figura que vai caminhando com uma destreza toda própria entre o legal e o ilegal, digno de admiração e sem pejo de sua ardilosa marginalidade, atributo essencial quando se trata de abater um inimigo com a eficácia e a presteza que seu ofício lhe exige.

Com uma carreira marcada por performances irregulares, ora muito boas, ora apenas protocolares e algumas vezes francamente ruins, a estrela da franquia consegue enxergar em que medida o público desculpa e condena a dubiedade moral de Wick, um criminoso patologicamente solitário, que talvez tenha perdido a capacidade de mensurar o sofrimento que infringe aos outros, mesmo à escumalha mais sórdida que afronta os fundamentos humanitários do mais pacifista dos homens, iluminação partilhada desde sempre com o diretor Chad Stahelski. Responsável pela visível unidade estilística e semântica de toda a tetralogia, Stahelski, um ex-dublê famoso por ter dado vida aos movimentos mais contraindicados de Brandon Lee (1965-1993), a quem sucedeu em “O Corvo” (1994), de Alex Proyas, sabe exatamente o que o espectador quer de seu filme e, por óbvio, de seu protagonista. E não economiza em nada para manter o interesse de quem assiste.

O texto de Derek Kolstad, Michael Finch e Shay Hatten investe na boa e velha correria na intenção de capturar a audiência de uma vez por todas. O Marquês de Gramont, o antagonista aqui, continua ávido pela cabeça de Wick, e os roteiristas aproveitam o gancho para relembrar os episódios que explicam o ódio de um pelo outro, com direito a menção ao assassinato iminente de Winston Scott, composição perspicaz de Ian McShane em misturar num personagem os cacoetes de um estelionatário às nuanças de um homem cheio de lembranças automartirizantes. Bill Skarsgård oferece um bom contraponto ao bom-mocismo torto do anti-herói de Reeves, malgrado não ache o espaço necessário para desenvolver sua interpretação.

Durante boa parte da abertura, Wick está no Japão, procurando por Shimazu, o chefe do Osaka Continental vivido por Hiroyuki Sanada; pouco depois, passa maus bocados com Caine, o assassino cego da Mesa Principal, de Donnie Yen. Laurence Fishburne surge bissextamente como Bowery King, uma espécie de assistente e mentor, provendo o aliado de novos trajes à prova de balas, e, na outra ponta, Tracker, também conhecido como Ninguém, espera que Wick meta-se em enroscos cada vez mais nebulosos, para superfaturar o preço que irá pedir por sua cabeça. Da mesma que ocorre com Skarsgård, Shamier Anderson fica sempre a um passo da obsolescência, embora não se possa ignorar seu talento. O que confirma a tese de que “John Wick 4: Baba Yaga” é mesmo uma história formulaica e pouco mais que uma vitrine para quem não é Keanu Reeves. Mas uma vitrine bastante opulenta, muito bem-decorada pela soberbafotografia de Dan Laustsen — como Stahelski, um aficionado por seu trabalho, a exemplo do que pode conferir em “A Forma da Água” (2017) e “O Beco do Pesadelo” (2021), de Guillermo del Toro. Detalhes que talvez passem despercebidos a olhos leigos, mas sem os quais o resultado não teria nada da violência tão adequada e tão convicta que tornou-se a marca da série e de seu personagem-título.


Filme: John Wick 4: Baba Yaga
Direção: Chad Stahelski
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Mistério
Nota: 9/10