Ganhador do Oscar, filme de uma das sagas mais adoradas da história do cinema está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Ganhador do Oscar, filme de uma das sagas mais adoradas da história do cinema está na Netflix

Ainda faz sentido querer que filmes a exemplo de “Star Trek” retratem tudo o que a ciência poderia ter sido e não foi, ao menos até este momento? Sim e não. J. J. Abrams surfa a onda infinita dos remakes, prequelas, reboots e quantos nomes mais se quiserem dar às reedições de histórias que tiveram seu tempo e deveriam ter se submetido à passagem dos anos, mas que, pela força de propósitos outros que não os artísticos, voltam com carga redobrada para alegria dos fãs e de mais ninguém. O diretor sorve do enredo, sensação entre 1966 e 1969 quando foi “Star Trek” foi exibida como série pela NBC, todos os cacoetes que ainda fazem a cabeça de quem viveu aquela época e pôde acompanhar os desdobramentos, os mais afortunados pela televisão de casa, de uma mal-sucedida incursão de terráqueos numa certa paragem da via Láctea. Esses telespectadores, americanos tranquilos a 13.789 quilômetros das batalhas durante a Guerra do Vietnã (1955-1975), não tinham uma ideia muito clara da razão dos enfrentamentos bélicos no Sudeste Asiático, porém tinham certeza quanto à possibilidade e mesmo à urgência de se conquistar outros mundos, se possível com a ajuda dos ETs insatisfeitos de lá. Decerto é essa a magia que teima em resistir depois de mais de meio século.

O “Star Trek” do século 21 não vai muito além de repetir a trama do seriado da NBC, sem o frescor impactante das tramas escritas por Gene Roddenberry (1921-1991) e sua bem-azeitada equipe. O que confere uma natureza verdadeiramente exclusiva ao trabalho de Abrams são os irretocáveis efeitos especiais da computação gráfica de William Aldridge, e, menos vistosa, a maquiagem de Barney Burman, Joel Harlow e Mindy Hall. O texto de Roddenberry era marcado por uma genuína curiosidade de conhecer, de esticar a corda e inventar outras leis da física se necessário, tudo na honesta tentativa de explicar, por exemplo, um possível êxodo cronológico, argumento que continua a sustentar o longa de 2009. O roteiro, de Roddenberry, Alex Kurtzman e Roberto Orci, sofre de um engessamento até previsível, uma vez que não tem mesmo muito para onde correr. A nave espacial USS Enterprise sofre uma pane, e isso é suficiente para que a tripulação deixe-se tomar por um histerismo espantosamente pueril, refletido precisamente nas atitudes nada profissionais e quiçá criminosas de James Tiberius Kirk, o comandante da missão. Chris Pine acha o justo equilíbrio entre a rebeldia inata de Kirk e sua conscientização gradual quanto a integrar um projeto bem maior que seu ego descomunal. O anti-herói de Pine só se emenda de vez no meio do segundo ato, depois de ser expulso da nave por Spock, o piloto adjunto, um híbrido cujo pai vulcano desposou uma terráquea e por esse motivo passou a infância sendo alvo das chacotas dos outros garotos alienígenas. Zachary Quinto responde pelos lances mais dramaticamente bem-construídos de “Star Trek”, e a contracena de Quinto com Leonard Nimoy (1931-2015) numa versão idosa de Spock e como seu pai oferece algum calor e identidade a um produto num esforço incessante por se passar por iguaria nobre, mas que, no fim, acaba mesmo é sabendo a enlatado.


Filme: Star Trek
Direção: J. J. Abrams
Ano: 2009
Gêneros: Ficção científica/Ação
Nota: 7/10