Filme brasileiro para maiores de 18 anos já é considerado o pior filme da história da Netflix Divulgação / Netflix

Filme brasileiro para maiores de 18 anos já é considerado o pior filme da história da Netflix

Definitivamente, o cinema nacional é feito de ciclos, regulados muitas vezes por filmes excelentes e produções que apenas cumprem tabela, como se para avisar o espectador sobre uma interrupção, ora breve, ora beirando o insuportável, para o que realmente faz a diferença chegar às telas de novo. É este o caso de “O Lado Bom de Ser Traída”, o suspense erótico de Diego Freitas, diretor neófito que caiu no gosto do público e da indústria.

Freitas, uma das grandes promessas do audiovisual hoje, realiza trabalhos primorosos a exemplo de “O Segredo de Davi” (2020), mas também se rende às exigências do mainstream e à pasteurização, como atesta “Depois do Universo”, campeão de audiência na Netflix em 2022, e “Tire 5 Cartas” (2023), direcionado às salas de exibição pública. No caso de “O Lado Bom de Ser Traída”, tudo se presta a satisfazer anseios de uma fatia da audiência quanto a flagrar atores e atrizes conhecidos das telenovelas sem roupa e protagonizando cenas de sexo quase explícito, tendência que, lamentavelmente, tem se cristalizado no novíssimo mercado cinematográfico do Brasil.

A abertura até dá a impressão de que o roteiro de Camila Raffanti vai ultrapassar as expectativas, mas pouco depois da corrida de moto disputada por dois personagens, a história começa a ser soterrada por uma avalanche de clichês, aos quais o sexo junta-se aos poucos. Bárbara Vieira, uma advogada em plena ascensão na carreira, liga para Caio Siqueira, o noivo com quem está prestes a se casar, a fim de saber se que ele ainda demora muito ir para casa. Ela não completa a ligação, não é respondida pelo aplicativo de mensagens, e quando ele finalmente chega, eles conversam sobre trabalho. A mocinha de Giovanna Lancellotti fica sabendo que o futuro marido, o personagem de Micael Borges, vai enfrentar uma audiência por envolvimento com um esquema de lavagem de dinheiro para o narcotráfico, o que pode respingar na moça, uma vez que a empresa de Caio representa um terço do escritório de Babi.

Em vez de destrinchar aquele que seria o eixo da narrativa, Freitas prefere despir suas estrelas e jogá-las num sofá de couro, na sequência um tanto longa na qual a garota revela uma de suas maiores frustrações. No ateliê de costura onde prova seu vestido de noiva, Babi termina de combinar os últimos detalhes da despedida de solteira, num inferninho com apresentações de strippers que também fazem programa. Enquanto abre os presentes, Patty, a melhor amiga, de Camilla de Jesus, aproveita para agarrar o dançarino dispensado pela anfitriã, que se ocupa de abrir os presentes, quase todos brinquedinhos que prometem incrementar a vida íntima do novo casal. Quando chega ao último, se dá a reviravolta que conduz tudo o mais que acontece no filme até o desfecho. 

A adaptação do livro homônimo de Sue Hecker, nom de plume de Débora Gastaldo, uma campeã de vendas no segmento, vai assim, morno, e esfria mais um tanto com a aparição de Marco Ladeia, o juiz galã de Leandro Lima, robótico, malgrado esses enredos sejam assim mesmo. Não existe nenhuma grande reviravolta; é tudo um pastiche dos longas da série “365 Dias”, ou retrocedendo um bocadinho, “Cinquenta Tons de Cinza”, muito, muito mais previsível. E vulgar.


Filme: O Lado Bom de Ser Traída
Direção: Diego Freitas 
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Suspense
Nota: 6/10