Seu sofá vai virar um divã depois que você se sentar para assistir à comédia romântica na Netflix que é uma terapia para o coração Divulgação / TriStar Pictures

Seu sofá vai virar um divã depois que você se sentar para assistir à comédia romântica na Netflix que é uma terapia para o coração

Clea DuVall é mais conhecida como atriz. Ela já esteve em diversos filmes dos anos de 1990 e 2000 dos quais nos recordamos, como “Ela é Demais”, “Prova Final” e “Garota, Interrompida”. Em “Happiest Season” ela não aparece nas telas, mas está por trás dela para nos contar um pouco de sua história. A comédia romântica LGBTQ+ é inspirada em uma situação que ocorreu com ela, mas, ao mesmo tempo, é uma história na qual muitas pessoas podem se identificar.

O longa-metragem traz o charmoso casal formado por Harper (Mackenzie Davis) e Abby (Kristen Stewart). Harper é obcecada pelo Natal, enquanto sua namorada, Abby, nem tanto. É que Abby perdeu os pais em um acidente de carro e, desde então, não comemora o feriado. Além disso, ela acredita que o Natal desperta o pior nas pessoas e as levam às terríveis discussões familiares comuns da época do ano. Mas ela está apaixonada por Harper e aceita ir com ela até a cidade de seus pais, comemorar o feriado com sua família. Abby, ainda, pretende pedir Harper em casamento no final da viagem.

No meio do caminho, enquanto dirigem pela rodovia, Harper acaba fazendo uma importante declaração para Abby. Ao contrário do que ela havia contado, sua família não sabe ainda que ela é lésbica. Então, ela pede para a namorada fingir que é apenas sua colega de apartamento que não tem com quem comemorar o Natal. Abby aceita a situação, embora não tenha ficado nada satisfeita.

Na casa de Harper, Abby encontra uma típica família de classe média conservadora, ao estilo Hallmark. O pai da namorada, Ted (Victor Garber) é candidato à prefeitura da cidade. A mãe, Tipper (Mary Steenburgen), é uma mulher controladora e elegante, que gosta de manter as aparências e organizar eventos sociais na cidade. Já as irmãs de Harper, Sloane (Alison Brie) e Jane (Mary Holland), competem pela atenção e aprovação dos pais. O menor equívoco de comportamento ou imagem pode comprometer a relação da família com elite provinciana daquela cidade.

Para o pesadelo de Abby, o ex-namorado de Harper, Connor (Jake McDorman), está sempre por perto. Ted e Tipper parecem alimentar a esperança de que a filha irá reatar o romance, assim como o próprio rapaz, e Harper se comporta, perto da família, como se estivesse disposta a dar uma nova chance para o ex. Diante disso, Abby fica enciumada e cheia de dúvidas em relação ao pedido de casamento.

Mas no meio de toda essa perversa “normalidade”, ela conhece Riley (Aubrey Plaza), uma outra garota queer na cidade com quem se identifica e se sente à vontade para abrir seu coração e falar sobre suas inseguranças com Harper. Por um momento, o enredo sinaliza um possível romance entre as duas, enquanto o namoro de Abby e Harper está em crise.

No meio disso tudo, DuVall, com sua corroteirista Mary Holland, traz deliciosas reflexões, piadas e situações que tornam essa comédia romântica bem divertida e relaxante. É como tirar férias dentro da própria cabeça. Embora o roteiro tenha sido escrito como uma forma de poder digerir e lidar com seu próprio trauma emocional, DuVall consegue fazer algo com que qualquer pessoa pode se identificar.

Dentre as importantes lições que tiramos dessa fabulosa obra de conforto, está a compreensão de que cada pessoa lida de uma maneira em relação a se assumir homossexual. Não adianta pensarmos que a experiência de um resume todas as outras. Cada família encara a notícia de um jeito e é importante ter empatia e pensar no quão deve ser difícil para alguns se abrir para os pais sobre o assunto. Para além disso, ainda há outra questão: a maneira como os pais se relacionam com os filhos lhes moldam a vida. Sempre iremos querer nos adequar às vontades e anseios dos pais para garantir sua aprovação. Às vezes, negligenciando partes importantes demais de nós mesmos. Isso pode ser extremamente penoso e traumático. Não deveria ser assim, pois o amor dos pais tem sempre que ser incondicional.

Enquanto lida com as toxicidades de uma família mais comum do que se imagina, DuVall entretém, nos diverte e nos acaricia a alma.


Filme: Happiest Season
Direção: Clea DuVall
Ano: 2020
Gênero: Comédia/Romance
Nota: 9/10