Dê uma pausa para seu cérebro e assista este filme apaixonante e divertido que está na Netflix Matt Kennedy / Screen Gems

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Assumir riscos e vencer as provações que o mundo nos lança ao rosto faz parte da vida de toda mulher e todo homem, tanto mais quando se sabe pertencer a um meio em que a rivalidade é a fatia mais saborosa do bolo. “A Batalha do Ano” explora essa aflição que traz o sucesso, estado quase transcendental que uma privilegiada minoria alcança e para o qual ninguém dispõe de uma explicação plausível e de todo satisfatória. Para uns, é necessário muitas vezes largar tudo, deixar arcaicíssimos hábitos que, de tão entranhados na carne e no espírito, demandam um autossacrifício de vaidades e dos medos que prestam-se a esteio e abrigo nos momentos de fracasso; já para outros, é como se a sorte mesma não pudesse existir sem sua licença, o que implica dificuldades de natureza diversa, quiçá até infinitamente mais perturbadoras dada a sensação de falsa onipotência com que marcam a fogo um espírito. Há ainda um terceiro grupo, a que pertence o anti-herói do filme de Benson Lee, feito de indivíduos que têm verdadeiro prazer em ferir a mão que a alimenta, contando com uma vaga oportunidade de dar a volta por cima. No caso de Jason Blake, ele aproveita, sim, sua chance, desdobra-se em mil para recobrar o tempo perdido e quase chega lá, sobrando-lhe um travo de frustração com que, a despeito de uma mágoa passageira, lida feito gente grande.

“A Batalha do Ano” começa bem, abusando de cenas em que conjuntos de rapazes de todos os países executam piruetas que contagiam o público. Trata-se de um campeonato de breakdance, modalidade de dança de rua umbilicalmente ligada à cultura do hip-hop que se caracteriza por evoluções improvisadas, acrobacias e giros no solo. O roteiro de Brin Hill e Chris Parker explica que, no campeonato anterior, a equipe de Dante Graham, o magnata negro do rap dançado vivido por Laz Alonso, a performance poderia ter sido melhor, o que o leva a decidir-se por reconfigurar tudo. Em paralelo, Blake, um ex-treinador de basquete que amarga uma debacle na carreira desde a morte da esposa do filho num acidente de carro, resiste a jogar a toalha e procura novos horizontes; Lee junta esses dois núcleos sem muita perícia, dispondo de cinco personagens, uns mais talentosos que outros, todos a um só tempo, no desejo de insuflar no público a torcida pelo novo treinador e por seus subordinados de agora, nessa ordem. Rooster, um antagonista bem temperado com vacilações de caráter e notas de bravura um tanto autodestrutiva, cai como uma luva para Chris Brown, cujo arrojo na composição é enriquecido pela doçura de Bambino, o bom moço de Luis Rosado.

Josh Holloway se sai bem na pele de um homem sem vocação para a paralisia da tristeza, num papel algo próximo ao James Ford de “Lost” (2004-2010), o seriado de televisão da ABC que o projetou para o estrelato. No desfecho, a “reviravolta” que o diretor lhe guarda, com uns tais Assassinos de Seul melando sua glória por um ponto — retórica semelhante à de “O Homem que Mudou o Jogo” (2011), levado à tela por Bennett Miller —, só não irrita mais porque, queira-se ou não, a vida é assim mesmo, esquentando e esfriando, como se testasse-nos a coragem.


Filme: A Batalha do Ano
Direção: Benson Lee
Ano: 2013
Gêneros: Dança/Drama
Nota: 7/10