Um dos melhores suspenses de todos os tempos está na Netflix e vai te fazer ter calafrios por 117 minutos Divulgação / Universal Pictures

Um dos melhores suspenses de todos os tempos está na Netflix e vai te fazer ter calafrios por 117 minutos

Segundo filme da Trilogia Ubreakable, de M. Night Shyamalan, “Fragmentado” sucede a “Corpo Fechado” e antecede “Vidro”. Um dos filmes mais brilhantes e difíceis de executar do cineasta, seu protagonista, Kevin Wendell Crumb (James McAvoy) é um homem que sofre de Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI). Quando Dennis, uma personalidade alternativa assume seu corpo, sequestra três adolescentes: Casey (Anya Taylor-Joy), Claire (Haley Lu Richardson) e Marcia (Jessica Sula). Presas em uma sala de uma área de manutenção de um zoológico, elas precisam pensar em uma maneira de sobreviver.

Mas não há apenas o sociopata Dennis dentro do corpo de Kevin. Há outras 23 personalidades, nas quais as mais conhecidas são Patricia, uma mulher dominadora; Hedwig, um garotinho de 9 anos atrapalhado e brincalhão; Barry, um estilista que é o paciente regular da psiquiatra Karen Fletcher (Betty Buckley); e A Besta, um canibal violento com força sobrenatural. O papel de Kevin havia sido escrito para Joaquin Phoenix, mas M. Night Shyamalan não conseguiu um acordo para que ele interpretasse o personagem. Mais tarde, o cineasta convidou McAvoy, a quem havia conhecido durante uma feira da Comic-Con.

O papel também havia sido criado para o filme “Corpo Fechado”, mas seu arco era tão rico e bem-desenvolvido, que Shyamalan decidiu separar sua história em um filme independente. O personagem foi inspirado em Billy Milligan, o primeiro homem a ser diagnosticado com Personalidade Múltiplas. Ele havia sido acusado por três estupros, mas foi absolvido ao alegar insanidade à Justiça. Milligan, que morreu em 2014, tinha 24 personalidades.

James McAvoy interpreta magistralmente seu papel, alterando suas feições e trejeitos, sotaques e timbres de voz a cada identidade que assume o corpo de Kevin. Sua presença na tela é devastadora e cada personalidade tem um efeito impactante sobre as personagens e o público.

Dentre as vítimas, quem se destaca é Casey, que revisita, por meio de flashbacks, seu passado. Ela não é uma adolescente comum. Com um trauma do passado e um histórico de aprendizado sobre caça e sobrevivência com seu pai, ela tem mais inteligência e jogo de cintura para lidar com Dennis e as outras identidades que se hospedam em Kevin.

O filme sozinho e sem o contexto da trilogia já seria perfeito. O enredo se sustenta ricamente individualmente. As atuações de McAvoy, Taylor-Joy, Richardson e Buckley estão arrebatadoras e extremamente convincentes. O transtorno mental de Kevin é interessante o suficiente para nos manter atentos e assustados e seu vínculo com Casey dá um gosto muito especial para a história.

Mas além de tudo que é construído em “Fragmentado”, há um plano maior, que é o da trilogia. Quando as outras identidades de Kevin aparecem, ele ganha habilidades e instintos especiais. Cada personalidade é capaz de fazer coisas que o hospedeiro normalmente não conseguiria sozinho. A Besta, por exemplo, tem uma força sobre-humana.

A história de Kevin começa ainda em “Corpo Fechado”, quando seu pai morre no mesmo acidente de trem que David Dunn (Bruce Willis) sobrevive e descobre que seu corpo tem super resistência. Filho de uma mãe violenta e abusiva, ele desenvolve o transtorno de personalidades múltiplas, que também lhe confere os tais poderes extraordinários.

No fim das contas, a trilogia é de super-heróis, algo diferente de tudo que Shyamalan costuma fazer. Mesmo assim, “Fragmentado” é o menos fantasioso e mais complexo dos três filmes, entregando um suspense aterrador e um material de estudo neurológico bastante didático, provocativo e impactante acerca da doença, nos fazendo compreender melhor e com mais empatia pacientes com transtornos mentais.


Filme: Fragmentado
Direção: M. Night Shyamalan
Ano: 2016
Gênero: Suspense / Terror
Nota: 10/10