Filme com Natalie Portman, na Netflix, vai te fazer pensar e tocar sua alma Paramount Pictures / Netflix

Filme com Natalie Portman, na Netflix, vai te fazer pensar e tocar sua alma

“Aniquilação” é um filme de Alex Garland, baseado no livro homônimo de Jeff VanderMeer. Lançado em 2018, o filme é aparentemente uma ficção-científica tradicional, que narra a história de um meteorito incandescente que caiu na Terra, atingindo um farol. No local do desastre, a natureza começa a sofrer alterações catastróficas e os cientistas americanos começam a chamar o espaço do acidente em “O Brilho”.

No centro da trama, temos Kane (Oscar Isaac), um soldado enviado em uma missão secreta para dentro do Brilho. Sua esposa, Lena (Natalie Portman), não sabia para onde ele havia sido enviado. Kane ficou desaparecido por 12 meses antes de retornar para casa e sofrer alguns efeitos colaterais, como hemorragia e convulsões.

Kane entra em coma e Lena, que é bióloga, quer explicações sobre o que teria ocorrido com seu marido. Então, ela se voluntaria para fazer uma expedição para o Brilho para pesquisar sobre o que teria provocado o desaparecimento dos outros companheiros de Kane e sua doença. Importante destacar que, quando o marido retorna, ele não parece o mesmo. É como uma pessoa esvaziada de vida, de emoções. É como se algo tivesse tomado seu corpo ou como se fosse um clone idêntico de Kane, que voltou no seu lugar. Junto com uma equipe de mulheres cientistas em outras áreas, ela adentra o centro daquela aberração alienígena.

Conforme Lena e as outras exploram o local contaminado, elas se deparam com a natureza modificada, como se uma radiação tivesse alterado o DNA das plantas e dos animais e transformado tudo ao redor em algo nocivo e mortal. No decorrer da expedição, o espectador também tem acesso às memórias de Lena por meio de flashbacks, que explicam seu casamento e o inesperado: sua infidelidade.

Embora pareça ser exatamente o que é, “Aniquilação” é apenas uma metáfora. A verdadeira história que nos é contada no filme é a do enfrentamento ao câncer. Na alegoria, a Terra tem um câncer. A realidade por trás da trama é que Kane enfrenta um câncer e, depois, Lena. Várias menções à doença são mencionadas no enredo, inclusive, uma das personagens que acompanha Lena na expedição sofre do mal. Mas a verdade é que Alex Garland quis nos mostrar de maneira poética, antológica e intelectual como é lidar com o câncer. O Brilho é como a célula doente, que se multiplica e começa a contaminar as células ao seu redor, transformando-as em aberrações, distorcendo-as. E o pior, fazendo elas se voltarem contra o corpo.

“Aniquilação” é sobre autodestruição. Sobre o corpo destruir a si próprio após ser afetado pelo câncer. Em uma cena, uma personagem diz a Lena sobre Kane: “É difícil entrar no Brilho e sair intacto”. Então a protagonista responde: “Ele [Kane] não saiu intacto”. Pessoas que conseguiram sobreviver ao câncer não saem as mesmas. O filme acompanha os estágios da doença até seu tempo terminal, quando a pessoa perde os sentidos, se perde de si própria e não sabe mais quem é. Assim como Kane quando retorna para casa e não parece ser a pessoa com quem Lena se casou.

Há duas formas de assistir “Aniquilação”. Uma delas é vendo como uma ficção-científica genérica e sem sal. A segunda, é enxergando pelo prisma da alegoria, e aí tudo faz mais sentido e os espectadores podem ver como, na realidade, o filme é subestimado. “Aniquilação” é uma viagem intensa e profunda pelos estágios da segunda doença que mais mata no mundo, provocando cerca de 10 milhões de mortes anualmente, segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Um filme forte, denso e complexo, que merece muito mais reconhecimento do que recebe.


Título: Aniquilação
Direção: Alex Garland
Ano: 2018
Gênero: Ficção-Científica/Drama
Nota: 9/10