7 filmaços que acabaram de chegar à Netflix e valem cada milésimo de segundo do seu tempo Scott Garfield / Netflix

7 filmaços que acabaram de chegar à Netflix e valem cada milésimo de segundo do seu tempo

Mistérios rondam a natureza humana desde o princípio dos tempos, numa dimensão muito anterior a esta que nos limita e nos condena. Ainda que disponhamos de toda a boa vontade da sorte — ao menos em quadras da vida em que só ela é capaz de remediar o grande mal que se nos abate —, somos sempre nós nossos juízes e nossos próprios carrascos, cabe-nos somente a nós a última palavra e só nossas são a culpa ou a fortuna pelo destino que nos aguarda, por mais que as artes, a ciência, o pensamento filosófico, a religião ocupem-se de proporcionar ao homem todos os recursos quanto a equalizar suas inadequações mais perturbadoras e acender um farol em meio ao oceano de quimeras vãs que nos iludem, nos tragam para o redemoinho de caos e falsas esperanças que nos alimentam e nos dão uma sensação de onipotência só para manifestar a força de seu veneno na primeira oportunidade e ao cabo de uma tortura lenta e silenciosa, nos afogam com a crença tola de ancorar na praia da ventura, lugar mágico, diabólico e santo, onde se daria a transubstanciação do mal em bem.

Como se incompatível ao estar do homem no mundo, a própria felicidade se nos apresenta como um dos tantos perigos da vida. Presa dos mecanismos de repressão e autocensura dos quais nunca consegue se livrar; tentando contornar a dureza do real valendo-se do poder salvífico e intangível da fé; colocando à prova seus limites e seu empenho em tornar reais as mudanças, óbvias ou profundas, de que considera-se merecedor; sempre flertando com a tragédia, à espreita, calada e sedutora, nas curvas mais sinuados do caminho; equilibrando-se sobre o delicado fio que aparta o caos do inferno: em todos os sete títulos que agrupamos na lista abaixo nota-se, de uma forma ou de outra, essa dicotomia invencível da alma humana, mediada pelas circunstâncias inexplicáveis que fazem com que tudo pareça o delírio imanente que paira sobre a existência de cada um em maior ou menor grau. Uma garota doce, mas essencialmente rebelde cujo espírito não se dobra às fronteiras que se permitem enxergar nem às intempéries do viver protagoniza “Destemida” (2023), de Sarah Spillane, história que congrega a obstinação por uma meta, a perseverança quanto a encontrar o meio de levá-la a termo e a coragem de lançar-se ao mar de desafios que se agita à passagem de quem ousa enfrentá-lo. Por outro lado, em “O Pálido Olho Azul” (2022), Scott Cooper faz reviver um dos emblemas das narrativas de suspense a partir de um enredo cujas reviravoltas decerto honram sua memória e dão novo fôlego a essas produções. Reunidos aos outros cinco, “Destemida” e “O Pálido Olho Azul” representam o que o cinema fez de melhor nos últimos catorze meses e constam do acervo da Netflix para que seus assinantes usufruam sem limite desse prazer. Respeitamos o critério de sempre, em ordem alfabética e do mais novo para o de lançamento mais atual, com uma variação mínima de um para o outro, conforme já se disse. Tudo bem mastigadinho, daquele jeito que vocês tanto gostam.