Thriller psicológico da Netflix mistura Agatha Christie e Allan Poe e você não conseguirá desviar o olhar Divulgação / Netflix

Thriller psicológico da Netflix mistura Agatha Christie e Allan Poe e você não conseguirá desviar o olhar

O suspense psicológico francês de Christophe Charrier “O Paciente Perdido”, de 2022, narra a história de Thomas Grimaud (Txomin Vergez), um rapaz de 19 anos, que acordou de um coma de três anos. Seus pais (Audrey Dana e Stéphane Rideau) e primo (Matthieu Lucci) foram massacrados, e sua irmã, Laura (Rebecca Williams), está desaparecida desde então. Thomas quase não sobreviveu às facadas que recebeu. Sem se lembrar de nada, ele passa a ser acompanhado, no hospital, pela psicóloga Anna (Clotilde Hesme).

Após tanto tempo em coma, Thomas também não consegue mais se movimentar, então é submetido a sessões de fisioterapia, onde conhece Bastian (Alex Lawther), outro paciente em recuperação. Durante as sessões com Anna, tenta se recordar de sua vida com a família e do que aconteceu na noite da tragédia. Por meio de flashbacks, o filme traz os fragmentos de memória da convivência no círculo familiar completamente desajustado de Thomas. Laura, que era sua melhor amiga, era uma garota rebelde e abrasiva. Quando perguntado sobre o que a irmã significa para ele, Thomas respondeu: “Tudo”.

O filme nos deixa uma pista sobre o que teria acontecido, quando o rapaz começa a ter visões de um homem encharcado e encapuzado que aparece para ele durante as madrugadas e aparentemente tenta matá-lo. Logo, a explicação mais óbvia é de que o trauma o está fazendo ter alucinações. Thomas também começa a desconfiar de sua terapeuta e a cair em uma espiral de paranoia, em que acredita que as pessoas sabem o que houve e sabem onde sua irmã está, mas não o deixam vê-la.

Mas é importante destacar que o narrador não é confiável e seu principal objetivo não é esclarecer os eventos da tragédia, mas confundir o espectador. Enquanto Thomas remonta o quebra-cabeça de sua vida na sua mente, a trilha sonora de Alex Beaupain vem seguindo como uma sombra à espreita, sempre reforçando sentimentos como desconfiança e tensão.

Outra pista que o filme deixa é a troca de olhares entre os personagens, que parecem guardar segredos e, ao mesmo tempo, raiva e medo uns dos outros. Esses olhares raivosos aparecem, inclusive, nas cenas em que aparentemente não há suspense, não há brigas ou discussões entre eles, deixando algo no ar para que o público perceba. Há um segredo que todos sabem e ninguém pronuncia. O diretor quer que notemos isso, porque sempre que há essas trocas de olhares, a câmera dá um grande close nos rostos. É como se ele nos dissesse: “Perceba isso”.

Mas, entre facilitar e complicar o caminho para a resolução do mistério, Charrier prefere deixar as coisas sempre mais nebulosas. Em “O Paciente Perdido” o filme entrega verdades e mentiras e cabe a nós identificarmos aqui o que é cada uma.

O filme tem andamento bastante arrastado. É preciso ser paciente e entrar no jogo de Charrier, que co-escreveu o roteiro com Elodier Namer, inspirados pelos quadrinhos de Timothé Le Boucher. Destaque para as atuações de Txomin Vergez e Rebecca Williams, que conseguem transitar tão bem entre cenas em que seus personagens parecem vulneráveis e outras em que eles são bastante explosivos.


Filme: O Paciente Perdido
Direção: Christophe Charrier
Ano: 2022
Gênero: Mistério/Terror
Nota: 7/10