Crônicas

Sinto informar que amor não vence no final

Sinto informar que amor não vence no final

No pesadelo que sonhei acordado joão matava tereza que matava de amores raimundo que morria de medo da polícia que subia o morro armada até os dentes e matava suspeitos muitos deles negrinhos desdentados que matavam serviço o tal do trabalho que enobrecia o homem e enriquecia outros homens que lotavam as igrejas com matilhas de homens em prol da fé que removia montanhas.

Se for pra ter medo, que seja de uma vida sem graça

Se for pra ter medo, que seja de uma vida sem graça

Somos biologicamente programados para ter medo. Ele é uma forma de precaução, de alertar o corpo sobre as possíveis agruras que alguém possa sofrer. Há quem defenda que tê-lo é sinal de fraqueza. Seja macho!, dizem por aí, como se isso significasse alguma coisa útil além de um traço de misoginia. Ainda bem que a biologia nos impede de adotar indiscriminadamente esses conselhos malucos e inconsequentes. Do contrário, lutaríamos a sangue frio com assaltantes armados e o emprego ficaria para trás ao primeiro dissabor. O medo nos faz prudentes.

Triste é quando o para sempre acaba, mas o amor permanece

Triste é quando o para sempre acaba, mas o amor permanece

Maria ama José, que ama Maria. Viveram uma linda história de amor sem final feliz. Não, eles não foram felizes para sempre como haviam se prometido. Algo saiu dos trilhos, no meio do caminho, pondo entre os dois corações uma montanha de tristeza e desesperança. Com outras bocas estiveram sob outros corpos, vivendo substituições frias como manhãs de inverno. Nada fazia o menor sentido. Não havia mais encaixe. Quando a cama e a alma estavam vazias eram assombrados pela presença do outro, que se deitava ao lado da certeza de que ninguém seria capaz de desatá-los.

‘A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata’

‘A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata’

Sonhar é achar-se sem licença. É viajar para o lugar mais próximo de nossa verdade psíquica, humana. Em sonho damos de cara com a intimidade, é feito ajustar um espelho diante da alma. Mas nem sempre estamos dispostos a esse atrevimento. Não obstante, nos mantemos acordados, evitando o contato com nossa realidade interna. Ver-se é descuidar-se dos controles, é deixar a capa cair — essa que vestimos, em vigília, para açoitar os bichos que arrastam correntes nas nossas varandas.