Aprendendo a matar passarinho

Aprendendo a matar passarinho

Morava numa rua de terra. Chutava bola descalço em futebóis da vida. Ninguém ganhava. Ninguém perdia. Vivia-se. Sem glórias, mas, vivia-se. Arruinava a cabeça dos dedos. Mamãe se arrepiava com o vidro de mertiolate nas mãos. Perdia as unhas nas pisaduras dos mais meninos velhos. Mamãe ralhava. Fundia a pele com a poeira que se tornava uma parte fundamental do meu corpo. Chorava lama. Suava barro.

Aclamado em Sundance, filme com Joaquin Phoenix que você ainda não viu, mas deveria, está no Prime Video Divulgação / Amazon Prime Video

Aclamado em Sundance, filme com Joaquin Phoenix que você ainda não viu, mas deveria, está no Prime Video

Em geral, quando se precisa ser mais astuto que o próprio destino, das duas, uma: ou se voa alto, ou se despenca do segundo andar. O caso de John Callahan (1951-2010), entretanto, faz pouco de qualquer previsão. “Não se Preocupe, Ele Não Irá Longe a Pé”, registro um tanto breve, mas pleno de detalhes reveladores da vida e da obra de Callahan, não aceita sentimentalidades redutoras, desvia do politicamente correto e alcança seu objetivo, qual seja, levar o público a enxergar com os mesmos olhos o diferente, aptidão que caracteriza o trabalho de Gus Van Sant desde sempre.

Dicionário cínico de cineastas, atrizes e atores

Dicionário cínico de cineastas, atrizes e atores

Depois do sucesso do “Dicionário Cínico das Palavras da Moda”, que virou livro, a Revista Bula segue em seu projeto de dominação mundial e reformatação do imaginário cultural do Ocidente com esse filho bastardo: o “Dicionário Cínico de cineastas, atrizes e atores”. O objetivo é estabelecer definições definitivas e sem censura sobre os mais importantes, e outros nem tanto, artistas do audiovisual de hoje, de ontem e alguns de amanhã.

É a Ales, de Jon Fosse

É a Ales, de Jon Fosse

Li “É a Ales”, de Jon Fosse, e fiquei desconfiado. Em tempo, explicarei. Se o livro não carregasse timbrado o logo de ganhador do Prêmio no Nobel, por causa de seu título cacofônico talvez ficaria encalhado nas prateleiras das livrarias. Para além desse detalhe, o livro é peculiar, não exatamente num bom sentido. Fosse empenha-se, claramente, em desenvolver uma estilística única, diferenciada. Em grande parte do livro, a história efetivamente não acontece. Os eventos são arrastados, fazem pouco sentido, estão imersos numa neblina fria e na descrição vertiginosa do autor. Talvez seja culpa do clima norueguês.

Divertidíssimo e delicioso, filme com Rachel McAdams e Harrison Ford acaba de chegar à Netflix Divulgação / Goldcrest Pictures

Divertidíssimo e delicioso, filme com Rachel McAdams e Harrison Ford acaba de chegar à Netflix

Uma comédia clichê, mas adorável, “Uma Manhã Gloriosa” é o primeiro encontro entre duas estrelas veteranas dos cinemas. Harrison Ford e Diane Keaton nunca haviam se encontrado e se conhecido antes deste filme ser gravado. Que bela oportunidade de oferecer um enorme banquete de talentos para o público. Com roteiro de Aline Brosh McKenna, que assinou filmes como “O Diabo Veste Pada”, “Cruella” e “Compramos um Zoológico”, e direção do premiado cineasta Roger Mitchell, nome por trás de “Um Lugar Chamado Notting Hill”, “Amor Obsessivo” e “Venus”, o filme explora as confusões, assédios morais e carga horária excessiva que há nos bastidores dos telejornais. Mas, claro, sem problematizar. Tudo aqui é transformado em humor.