Autor: Eberth Vêncio

Só leia isso se não tiver mais nada pra fazer

Só leia isso se não tiver mais nada pra fazer

Não me queiram mal, não me desentendam, não vão pensar que eu pirei. É que, realmente, hoje estou feliz. E com felicidade se brinca. Sinto-me tão alegre que poderia até lhes escrever um texto fofo e otimista, desses que falam do amor vencendo no final. Afinal, o que seria do mundo se não houvesse o contrapeso de uma rima à altura da dor?

Amai-vos uns aos outros, mas só se for pra valer

Amai-vos uns aos outros, mas só se for pra valer

Não. Eu não quero um empréstimo consignado. Eu não quero informações privilegiadas de um ex-diretor do Banco Central que atua no mercado financeiro. Eu não quero saldo ilimitado no cartão de crédito. Aliás, eu não quero que me enviem mais cartão algum com a primeira anuidade grátis. Eu não quero as menores taxas de juros do mercado. Eu não quero que você faça “aquele meio campo” pra mim durante a reunião. Eu não quero ser promovido a nada.

Amor à pátria é o cacete. Eu gosto mesmo é de dinheiro

Amor à pátria é o cacete. Eu gosto mesmo é de dinheiro

É época de eleições no Brasil. Os ânimos e a intolerância estão exaltados, e o país parece muito claramente dividido em duas vertentes políticas que, ao menos nos discursos dos candidatos e nas bravatas das redes sociais, parecem antagônicas. Se bem que, depois que o Homem Sem Dedos e O Caçador de Marajás beijaram-se na boca, nada mais parece tão diferente e inovador como se supunha.

Os homens — estes, sim — deveriam lamber os seus cães

Os homens — estes, sim — deveriam lamber os seus cães

Para o meu cão, deixo o mundo: osso duro de roer. Para o mundo-cão, deixo um esqueleto no armário: resquícios do poeta que minguou em mim. Para os grande cânions, deixo pequenas demonstrações de desespero: os meus latidos de inconformismo a ecoarem, a ribombarem contra as rochas e confundirem os ecos. Para ondas e correntes, deixo as minhas braçadas rio acima.
Para o jardim de inverno, deixo os tais sonhos de uma noite verão. Vocês verão — prezados lírios — que, de tão simplórios, até poderiam ser chamados delírios, ao invés de sonhos.

Sem taxímetros também se vai ao céu

Sem taxímetros também se vai ao céu

Não costumo escrever a respeito dos meus destinos de viagem para não parecer mais presunçoso e metido a besta do que penso. No duro: não sou de vomitar cruzeiros all-inclusive, de me deixar fotografar ao lado de uma centenária torre francesa enferrujada. Melhor seria fazer um selfie com a septuagenária La Belle de Jour. É líquido e certo: Catherine Deneuve e o Rio de Janeiro continuam lindos.