O filme emocionante e perturbador da Netflix que vai te deixar vidrado na TV até o último segundo Erik Aavatsmark / Netflix

O filme emocionante e perturbador da Netflix que vai te deixar vidrado na TV até o último segundo

A ascensão do supremacismo branco na Europa, especialmente em países conhecidos por seu pacifismo e sua decisão firme de não interferir na soberania de outras nações, contrasta fortemente com sua tradição de acolher cidadãos de países em risco social, perseguidos por fome, políticas radicais, genocidas, e perseguição religiosa. Este fenômeno atingiu um marco sem precedentes em 22 de julho de 2011, quando um extremista se dirigiu a uma ilha na Noruega e começou a atirar contra crianças e adolescentes, muitos dos quais imigrantes, negros e muçulmanos.

O ataque começou com um atentado a bomba que fez oito vítimas, seguido por uma sequência de violência que resultou em 69 mortes. A resposta rápida e detalhadamente organizada foi eficaz em capturar o atirador em poucas horas. A Noruega, conhecida por sua civilidade, mergulhou em um turbilhão do qual sairia profundamente transformada, mais madura e pronta para discutir temas urgentes até então negligenciados.

Paul Greengrass, conhecido por abordar eventos trágicos em suas produções, fez uma contribuição significativa com “22 de Julho” (2018). O filme retrata de maneira intensa os bastidores do ataque, os dramas das vítimas e as consequências para uma das democracias mais civilizadas do mundo. Utilizando técnicas que já o consagraram, como câmera na mão e som ambiente, Greengrass traz à tona a dramaticidade da história sem cair no melodrama ou sensacionalismo.

O diretor desdobra o conflito de maneira didática, garantindo fluidez e naturalidade à narrativa. O resultado é um enredo denso, repleto de informações que permitem uma imediata assimilação e avaliação moral do evento, concedendo espaço para que o perpetrador expresse sua perspectiva, mesmo que condenável.

Anders Behring Breivik escolheu aleatoriamente o dia para manifestar seu ódio infundado contra indivíduos que ele, em seu delírio, considerava impuros e indignos de compartilhar o mesmo país. A crença de que a Noruega estava se afastando dos valores europeus alimentou uma fogueira que ardia há algum tempo. Breivik passou grande parte de sua vida planejando a ofensiva contra o que chamava de desintegração moral da Noruega, devido ao crescente número de imigrantes.

Greengrass, comprometido com a precisão narrativa, mostra Breivik, interpretado por Anders Danielsen Lie, em pleno uso de suas faculdades mentais, tanto na investida contra uma autarquia governamental em Oslo quanto no ataque à ilha de Utøya. A habilidade técnica de Greengrass é evidente, e após as intensas sequências de perseguição, o roteiro foca na recuperação de Viljar Hanssen, vivido por Jonas Strand Gravli, um dos sobreviventes.

O terceiro ato do filme revela os detalhes de um dos julgamentos mais esperados da Noruega, mostrando os esforços de Viljar para se recuperar e enfrentar seu algoz. Ele lida com a perda do olho esquerdo, inúmeras sessões de fisioterapia para recuperar a mobilidade das pernas, e fragmentos de projétil alojados no cérebro que representam um risco constante.

A trama aborda a discussão sobre a consciência de Breivik em relação à maldade de seus atos, inicialmente questionada por seu advogado Geir Lippestad, interpretado por Jon Øigarden. No entanto, a confissão do acusado reafirma sua intenção de matar, trazendo a narrativa de volta aos trilhos. Anders Behring Breivik foi condenado a 21 anos de prisão, a pena máxima na Noruega, em 24 de agosto de 2012.


Filme: 22 de Julho
Direção: Paul Greengrass
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Crime
Nota: 9/10