Aplaudido por 5 minutos em Cannes, drama na Netflix é uma jornada de persistência e determinação Jessica Forde / Focus Features

Aplaudido por 5 minutos em Cannes, drama na Netflix é uma jornada de persistência e determinação

Tom McCarthy tem uma compreensão profunda da América interiorana e, além disso, dos indivíduos que a habitam. Um exemplo é Bill Baker, um ex-operário de uma empresa petrolífera cuja vida rapidamente se vê envolta em um turbilhão de raiva, desconforto e uma busca incessante por justiça diante do que ele acredita ser uma grande injustiça. Bill tenta passar despercebido sob bonés de beisebol desgastados e camisas xadrez, acompanhado por um cavanhaque robusto, mas não se deixe enganar: o protagonista de “Stillwater: Em Busca da Verdade” é tudo menos ingênuo.

McCarthy, junto com os co-roteiristas Thomas Bidegain e Marcus Hinchey, baseiam-se vagamente no caso de Amanda Knox, uma estudante americana condenada pelo assassinato de sua colega de quarto enquanto estudava na Itália em 2007. O filme reserva reviravoltas tão inesperadas quanto as do caso real, apostando na atuação astuta de Matt Damon, que consegue transformar um dos muitos homens invisíveis das sociedades hipercapitalistas em um personagem notável.

Bill não demonstra desejo de deixar Stillwater, Oklahoma, uma cidadezinha acolhedora (e empobrecida) do meio-oeste americano. No entanto, após perder o emprego na petrolífera, a vida o empurra para caminhos desconhecidos. McCarthy revela gradualmente o passado de seu protagonista, mostrando que Bill era um funcionário exemplar e que sua demissão não foi culpa sua.

Dedicado à nova função de remover os destroços do último tornado em Shawnee, um condado vizinho, Bill trabalha com afinco, não para garantir uma vaga permanente na empresa, mas porque essa é a sua natureza. O diretor destaca a integridade do anti-herói de Damon, preparando o terreno para sua transformação no terceiro ato, quando ele se torna mais parecido com Allison, sua filha única que cumpre uma sentença de nove anos de prisão pelo assassinato de Lina, uma colega muçulmana com quem se envolveu romanticamente.

A trama se desloca de Stillwater para Marselha, onde Ally está encarcerada, de maneira natural. O público começa a estranhar o novo ambiente quando Bill passa a visitar a filha na prisão, revelando gradualmente a psicopatia latente da garota. Mesmo assim, o pai só começa a duvidar de sua inocência em uma cena onde Damon praticamente não fala, deixando para Abigail Breslin a responsabilidade de, com um texto intenso, proferido entre soluços e lágrimas genuínas (ou bem fingidas), suscitar compaixão ou indignação no público.

 Paralelamente, Bill se aproxima de Maya e sua mãe, Virginie, que conheceu no hotel onde estava hospedado. As personagens de Camille Cottin e Lilou Siauvaud trazem um pouco de calor aos dias desse homem profundamente amargurado. No entanto, como se vê na conclusão, é impossível fugir do destino, especialmente para alguém como Bill, que sente-se compelido a não trair sua própria família.


Filme: Stillwater: Em Busca da Verdade
Direção: Tom McCarthy
Ano: 2021
Gêneros: Thriller/Crime
Nota: 8/10