Uma reflexão profunda sobre amor, tempo e família em uma das histórias de amor mais belas do cinema, na Netflix Murray Close / Universal Pictures

Uma reflexão profunda sobre amor, tempo e família em uma das histórias de amor mais belas do cinema, na Netflix

Muitas pessoas acreditam que retroceder a um momento específico da sua vida, com uma certeza quase insana sobre o que fazer para corrigir certos erros, poderia ser a solução para todos os problemas enfrentados. Tim, protagonista de “Questão de Tempo”, ao atingir 21 anos, abraça essa fantasia, embora em seu caso, ele tenha justificativas concretas para essa ilusão. Esta ideia de voltar no tempo é uma antiga fixação do cinema, celebrada com mérito por Harold Ramis em “Feitiço do Tempo” (1993), onde Phil, o infeliz meteorologista interpretado por Bill Murray, fica preso no mesmo dia por anos, observando de perto o naufrágio de seu casamento em contraste com seu sucesso profissional, enquanto tenta reconquistar sua antiga vida.

Diferentemente, Richard Curtis concede a Tim o poder de viajar ao passado quantas vezes desejar, desde que suas ações não afetem a vida de terceiros, algo que parece impossível. Após aceitar essa licença poética, o espectador é brindado por Curtis com uma narrativa cativante, oferecendo uma experiência multissensorial que mistura diversão e emoção.

A vida, com suas incertezas, apresenta questões incessantes que desafiam o ser humano. À medida que os anos avançam, a percepção de que tudo converge para um fim inevitável se intensifica. Embora a ciência se esforce para prolongar a existência humana, o plano físico permanece limitado.

O tempo e a maturidade, embora relacionados, nem sempre seguem a mesma direção, trazendo à tona a necessidade de encontrar nosso próprio espaço no mundo, consciente de que este lugar não é fixo ou hereditário. A vida, longe de ser sempre pacífica, é frequentemente tumultuada. A jornada de viver é condicionada por desvios inesperados, reforçando nossa pequenez diante da complexidade da existência.

Curtis aborda o tema central de seu filme em uma cena onde Tim, interpretado com doçura por Domhnall Gleeson, conversa com seu pai sobre o grande segredo dos homens da família. Bill Nighy, junto a Gleeson, forma uma dupla convincente que sustenta a narrativa de fantasia e esperança, mesmo nos momentos mais austeros, com a história se desenrolando entre Londres e Crawley. As excelentes performances femininas de Margot Robbie como Charlotte e Rachel McAdams como Mary enriquecem ainda mais a trama.

Reutilizando elementos de “Simplesmente Amor” (2003), Curtis moderniza a narrativa, depositando suas sinceras esperanças no amor sem recorrer a artifícios mágicos. A vida é doce, mas às vezes também enjoativa, e fugir para outro mundo não altera nossos melhores e piores aspectos, uma lição que Tim aprende com dificuldade.


Filme: Questão de Tempo
Direção: Richard Curtis
Ano: 2013
Gêneros: Romance/Ficção científica/Coming-of-age
Nota: 9/10