O romance com Jake Gyllenhaal, vencedor de 3 Oscars e que mudou a história do cinema, está na Netflix Divulgação / UPHE

O romance com Jake Gyllenhaal, vencedor de 3 Oscars e que mudou a história do cinema, está na Netflix

Durante uma época não tão distante, o amor tinha que permanecer oculto. Naquele tempo, os relacionamentos seguiam estritas convenções: homens se uniam a mulheres, negros casavam-se entre si, e muçulmanos viam as ocidentais como perigosas. O mundo era um vasto campo minado onde cada passo seguia uma lógica fria, evitando a transgressão das normas, mesmo que isso implicasse viver em constante infelicidade, mas perfeitamente ajustado às expectativas sociais.

“O Segredo de Brokeback Mountain” não se limita à história de dois homens tentando ficar juntos. Este filme aborda a solidão profunda. Poucos diretores além de Ang Lee, com sua visão plural e coragem, poderiam ter conduzido tal projeto. Acidentalmente, o diretor taiwanês captura uma das feridas da vida americana enquanto revela as dores pessoais dos protagonistas.

O roteiro de Larry McMurtry e Diana Ossana, adaptado do conto de Annie Proulx publicado na “The New Yorker” em 1997, mantém a essência trágica do casal atípico. O romance deles se desenvolve através de encontros esporádicos que duram mais de duas décadas, permitindo que o espectador se torne uma testemunha de seus altos e baixos.

A adaptação fiel do texto de Proulx rendeu a McMurtry e Ossana o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Ang Lee também ganhou sua primeira estatueta como Melhor Diretor. Embora o filme não tenha conquistado o prêmio de Melhor Filme, perdendo para “Crash: No Limite” (2005), ele deixou uma marca indelével na cultura cinematográfica. A trilha sonora de Gustavo Santaolalla, que venceu o prêmio de Melhor Trilha Sonora Original, reforça que “O Segredo de Brokeback Mountain” é um esforço coletivo, harmonizado sob a direção de um maestro confiante.

Ennis Del Mare e Jack Twist se encontram no Wyoming em 1963. Jovens de cerca de vinte anos, eles buscam trabalho como pastores de ovelhas no oeste, na encosta da Montanha dos Sortilégios, também conhecida como Big Horn. Desde o início, é evidente o desconforto intrínseco de Ennis, interpretado como um garoto assustado, evitando confrontos no trailer do capataz Joe Aguirre, interpretado por Randy Quaid, que os envia para Brokeback por um salário irrisório. Jack, por sua vez, esconde mágoas antigas, mas sua natureza luminosa cativa Ennis.

É Jack quem inicialmente demonstra interesse, e a cena de sexo abrupto e intenso entre eles, quase como um castigo infligido por Ennis, prenuncia uma relação tumultuada, repleta de altos e baixos. Após retornarem à planície, Aguirre descobre o que seus empregados faziam nas horas vagas, resultando em anos de separação.

Heath Ledger e Jake Gyllenhaal capturam a essência de um amor constrangido pelas circunstâncias e pelo espírito do tempo. Em uma cena emblemática, já casados e com filhos, os dois se reencontram na casa de Ennis, sob o olhar de sua esposa, Alma. O desenrolar choca, mas a direção poética de Lee evita a vulgaridade, e mesmo quando Alma testemunha a intimidade entre os dois, o casal só se separa quando as filhas já são adolescentes.

A habilidade de Lee em retratar os sentimentos de todos os envolvidos enriquece o filme. Michelle Williams, como Alma, e Anne Hathaway, como Lureen, esposa de Jack, têm papéis cruciais. Em uma conversa telefônica com o amante de seu marido, Lureen revela o verdadeiro segredo, ilustrado por Lee em cenas impactantes. Se o amor é, de fato, uma força natural, como dizia a campanha do filme, o ódio continua a ser um adversário quase insuperável.


Filme: O Segredo de Brokeback Mountain
Direção: Ang Lee
Ano: 2005
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 9/10