Remake de clássico de ação, thriller com Jake Gyllenhaal e Conor McGregor acaba de chegar ao Prime Video Divulgação / Metro-Goldwyn-Mayer

Remake de clássico de ação, thriller com Jake Gyllenhaal e Conor McGregor acaba de chegar ao Prime Video

Há filmes e mais filmes sobre tipos como Elwood Dalton, o protagonista de “Matador de Aluguel”, e é graças a essas figuras ambivalentes, tortas, que fazem das sombras seu reino e seu ganha-pão, que histórias assim pretensiosas conseguem sustentar-se. Evidentemente, o apuro estético, como na fotografia de Henry Braham, ajudam muito que o trabalho de Doug Liman não seja esquecível de todo, mas para continuar na espuma, as sequências em que Dalton tem de acertar contas com alguns de seus inúmeros adversários obedecem aos limites draconianos da computação gráfica, restando pouca margem para que Jake Gyllenhaal garanta o minguante interesse do espectador pelo que se encontra na tela.

Anthony Bagarozzi, R. Lance Hill e Chuck Mondry remexem o clássico de Rowdy Herrington, cuja estreia num distante 1989, também tratou de desconstruir um galã com carinha de bom moço. Saído do sucesso escaldante de “Dirty Dancing – Ritmo Quente” (1987), dirigido por Emile Ardolino (1943-1993), o dançarino Patrick Swayze (1952-2009) encarou com bravura o desafio de dar vida a um marginal um tanto envergonhado de seu cotidiano no submundo. Gyllenhaal, por sua vez, oferece um anti-herói pleno de contradições, que ora parece resignado diante do que o destino tem-lhe posto, ora dá a entender que quer mudar radicalmente, mas, no fundo, sabe que é demasiado tarde. Assim mesmo, o esforço do ator principal não tarda a se mostrar baldado em meio ao lero-lero sem fim  de uma trama que quer ser muito mais do que pode.

Dalton, um ex-peso médio do UFC, vive de pequenos bicos e, por óbvio, das lutas meio clandestinas que consegue marcar com figuras ainda mais exóticas que ele, feito Carter, de um deslocado Post Malone. Já nesse primeiro embate, o lutador dá mostras inequívocas de que ainda vai levar um bom tempo até que Dalton deixe os ringues definitivamente, o que nem é tão fenomenal assim, uma vez que não surge ninguém com seu talento e sua abnegação. Ele poderia continuar se virando de soco em soco e fazendo um bom dinheiro enquanto não arruma nada melhor, mas nuvens cinzentas avultam no seu horizonte.

O primeiro e quiçá incontornável é que ele não tem vocação para levar nenhuma outra coisa a sério; o segundo, igualmente grave, é o espaçamento cada vez mais longo entre uma disputa e outra. Depois que uma luta é cancelada sem qualquer explicação, Dalton conhece Frankie, dona da Road House, o inferninho em Florida Keys que empresta seu nome ao título original do filme. Road House tem sido vítima de achacadores que afugentam a suspeita freguesia a bordo de motocicletas envenenadas. Frankie precisa de Dalton — e Dalton precisa de Frankie.

Naturalmente, Dalton não é contratado por seus belos olhos, e ele também já esperava que o expediente na Road House exigiria dele muito mais que sangue frio para aplicar um corretivo na patuleia que espalha o terror na vizinhança. Aos poucos, Liman elabora a metamorfose de seu protagonista, do bandidinho quase romântico no assassino perverso cuja fama logo é conhecida em toda a costa sul da América. Jessica Williams convence na pele de mais uma criatura de noite, num balé maldito em que proporciona à audiência respiros (quase) cômicos quando na presença de Gyllenhaal. 

“Matador de Aluguel”, no Prime Video, é, a propósito, creia-se ou não, uma história muito voltada ao feminino, a exemplo do que se apreende da performance da portuguesa Daniela Melchior. Sua Ellie, a médica que responde pelo pronto-socorro onde Dalton vai parar em circunstâncias um tanto nonsense, é outra das evidências sobre a incompatibilidade de homens como aquele e o amor, que permeia sem alarde o enredo. Mas o diretor jamais se dá conta disso, engambelado pela necessidade de escandalizar (algo de que também não é capaz).


Filme: Matador de Aluguel
Direção: Doug Liman
Ano: 2024
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 7/10