O romance com Anne Hathaway que vai derreter seu coração e fazer carinho na sua alma

O romance com Anne Hathaway que vai derreter seu coração e fazer carinho na sua alma

Dizer que os verdadeiros romances, aqueles que unem duas pessoas distintas entre si, dois mundos que em outras circunstâncias jamais se poderiam encontrar, têm o poder da cura é muito  mais que um surrado clichê em “Amor e Outras Drogas”, bela alegoria sobre o quão maduros podem estar para o envolvimento afetivo um homem demasiado ambicioso e uma mulher despojada, numa quadra especialmente difícil de sua já combalida existência.

Em outra mostra de que domina relações humanas como poucos, Edward Zwickenfronha-se na vida de um casal que parece não depender dele para nada, tamanha a afinidade que os protagonistas manifestam. Repetindo o bom desempenho de “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), Anne Hathaway e Jake Gyllenhaalencarnam um casal a um só tempo coeso e insólito, como no faroeste gay de Ang Lee — no qual Hathaway, por óbvio, não era o centro das atenções. Até lá, contudo, o roteiro de Zwick, Marshall Herskovitz e Charles Randolph prima por escancarar as diferenças abissais que levam-nos, ao custo da teimosia alimentada por um senso de autopreservação meio opressivo, a se deixar consumir pela chama que nunca para de arder.

O Jamie Randall de Gyllenhaal é um charmoso representante comercial de laboratórios farmacêuticos, determinado a fazer qualquer coisa para subir. Ele quer deixar Ohio e mergulhar fundo na lucrativa selva de pedra de Chicago e seus gigantescos centros hospitalares, aproveitando qualquer mínima chance de puxar conversa com os médicos e flertando com as enfermeiras e secretárias, atividade para a qual nem sempre está disposto, mas a que não pode dar-se ao luxo de abdicar. O diretor e seus corroteiristas lançam mão de recursos visuais a exemplo de ternos de rebuço largo e bips a fim de localizar a trama nos últimos anos da década de 1990, quando o Viagra passou a ser encarado à luz do milagre por devolver a potência viril a septuagenários ou sessentões, por si só uma evidência de que uma era de negócios polpudos se descortinava. 

Gyllenhaal sustenta uma atuação vistosa, investindo na ambivalência ética de Randall, que invalida os esforços de Trey Hannigan, o colega de outra empresa vivido por Gabriel Macht, na guerra pela divulgação de dois ansiolíticos concorrentes. Nessa mesma seara, a amizade com o doutor Stan Knight, o tipo amoral vivido por Hank Azaria, o leva a acometer o gesto repulsivo que o põe em rota de colisão com Maggie Murdock, recém-diagnosticada com Parkinson.

O conflito entre Randall e a antimocinha de Hathaway não resiste às investidas atenciosas do vendedor, que ninguém se atreve a dizer que sejam autênticas até que os dois surjam nus na cama dele. De qualquer forma, Zwick resolve com uma urgência desmedida e artificiosa as incongruências entre os novos amantes, enfraquecendo em boa proporção os possíveis desdobramentos dessa abordagem, isto é, o peso da doença de Maggie no namoro com Randall. Josh, o irmão do protagonista, que Josh Gadincorpora com convicção em meio à atmosfera de comédia romântica que ganha vulto, é mais um empecilho para que a relação dos dois avance, sem, todavia, que a tragédia do Parkinson suma do horizonte.

Juntos, Randall e Maggie terão de decidir de que maneira haverão de lidar com o fantasma de um possível afastamento compulsório; para reforçar esse tropo, essa imagem de gente que se ama obrigada a vencer desafios que talvez o amor não alcance, o diretor inclui no enredo uma associação de portadores do distúrbio. Nessas cenas, cuja relação com o filme é discutível, Hathaway e Gyllenhaal passam do humor à aflição num só golpe, dando a “Amor e Outras Drogas” um quê de nobreza. 


Filme: Amor e Outras Drogas
Direção: Edward Zwick
Ano: 2010
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10