Com Donald Sutherland e Helen Mirren, filme na Netflix vai te ensinar as mais belas lições sobre amor e vida Divulgação / Sony Pictures Classics

Com Donald Sutherland e Helen Mirren, filme na Netflix vai te ensinar as mais belas lições sobre amor e vida

John é professor acadêmico de literatura aposentado e está perdendo a memória. A esposa, Ella, decide levá-lo até a casa de seu escritor favorito, Ernest Hemingway, em Key West, na Florida. Então, eles partem sozinhos de Boston em uma travessia aos Estados Unidos. Jane, que seguiu a profissão do pai, mora a algumas horas de distância da casa da família. Já Will é quem toma conta dos pais idosos. Naturalmente, ele é quem fica mais neurótico diante da situação inesperada.

Primeiro filme do cineasta italiano Paolo Virzi em inglês, “John e Ella” é baseado no romance homônimo de Michael Zadoorian, publicado em 2009. Lançado na seção principal de competição do 74º Festival Internacional de Cinema de Veneza, o drama traz Donald Sutherland e Helen Mirren nos papeis do casal John e Ella Spencer, que decidem partir em seu trailer para uma última aventura, deixando os filhos, Will (Christian McKay) e Jane (Jane Moloney), em polvorosa.

No meio de sua jornada, John e Ella conhecem novas pessoas, são parados por um policial, se perdem um do outro e depois se reencontram, ficam na beira da rodovia com o trailer estragado, são assaltados por dois marginais atrapalhados e descobrem segredos profundos que podem colocar em risco seu relacionamento de tantas décadas. Apesar de todas as crises, também testemunhamos a cumplicidade, intimidade e maturidade de sua relação. Se o tempo tem o poder de corroer todas as coisas, inclusive a convivência, em alguns raros casos, ele é capaz de fortalecer os vínculos, tornando-os muito mais sólidos e consistentes.

John, a todo momento, se esquece de onde está, quem é Ella e da época de sua vida em que se encontra. Viver com uma pessoa cuja memória está em constante degradação é trabalhoso e doloroso. Ella, sem dúvidas, carrega o peso de tornar o mundo de seu marido um lugar menos hostil e confuso. Mas ela parece equilibrar com muita astúcia e jogo de cintura a situação. Em determinado momento, Ella tem uma crise nervosa e decide abandonar John, mas isso não é, de forma alguma, decepcionante para o espectador que idealiza neles a relação perfeita. Pelo contrário, demonstra que nada é inquebrável, nada permanece intocado. Todas as relações possuem rachaduras. Mas é a forma como as peças ainda se encaixam que é mais importante.

A química incrível entre Mirren e Sutherland torna toda história bastante convincente. Eles parecem ter dividido o mesmo teto e a mesma cama há muitos anos. Luca Bigazzi, diretor de fotografia italiano, consegue capturar com seu olhar de visitante paisagens únicas e de tirar o fôlego da América, mas ao mesmo tempo, parece bem familiarizado com a tradicional e patriótica perspectiva de alguém que nasceu por ali.

Extremamente sensível, reflexivo e realista, “Ella e John” é um olhar gentil sobre o crepúsculo da vida. Eles não se isolam do mundo, não se recolhem como se fossem socialmente inúteis, não aceitam que recomendações médicas e diagnósticos limitem seus sonhos. Ella e John quem sugar o máximo da vida que lhes resta e o fazem. Serve de lição para nós, que por tão pouco nos fechamos para dentro de nós mesmos e impedimos qualquer resquício de luz de entrar.


Filme: Ella e John
Direção: Paolo Virzi
Ano: 2017
Gênero: Drama
Nota: 9/10