Baseada em história real, comédia romântica que acaba de chegar na Netflix mostra que o amor verdadeiro vence todos os desafios Divulgação / Motion Blur Films

Baseada em história real, comédia romântica que acaba de chegar na Netflix mostra que o amor verdadeiro vence todos os desafios

Amores resistem a profundas diferenças culturais, que carregamos conosco aonde quer que possamos ir? Nas comédias românticas elas continuam a pesar, claro, mas só até determinado ponto, especialmente se for Natal, esse tempinho mágico em que almas de ferro dobram-se à força do que não se vê, não se deixa tocar, mas se sente, a cada novo primeiro raio de sol até a manhã mais feliz do ano — que também pode ser de branca neve cobrindo os telhados de meio mundo.

“O Natal de Costume” é um lembrete para que ninguém espere muita coisa da tal data célebre, apenas deixe de lado preconceitos, mágoas, rancores, neuras, e perceba a vida a sua volta, o que não é assim tão fácil. O norueguês Petter Holmsen tenta quebrar o gelo evocando o mais humano dos sentimentos numa conjuntura até excêntrica, é verdade, mas perfeitamente factível, sobretudo para aqueles que recusam-se a pensar que o coração tenha limites tão modestos. Baseado numa história real, o filme de Holmsen está sempre a balançar em cenas de comédia açucarada para um humor mais bem-definido, às vezes até puxando para o cáustico, mas que propõe uma reflexão acerca do quão pode importar nossas tolas certezas e nossos alicerces nem tão sólidos diante do fascínio sincero por alguém.

O plano panorâmico de uma cidade feita de arranha-céus, palmeiras e sol abre o longa, e quando a câmera toca o chão, uma mulher cruza a esquina da via Rodeo com a alameda N. Rodeo. 

Já é dezembro, mas Los Angeles ferve, e por isso Thea Evjen não consegue entrar no clima. Ela volta para casa e encontra o namorado vestido como um Papai Noel com menos pano, disposto a enfrentar as escaldantes temperaturas do sul da Califórnia, já completamente tomado pelo tal espírito natalino. Há velas e pétalas de rosa na sala, e ela até conclui a ligação com a mãe, tamanho o aturdimento. Jashan Joshii, o namorado de pouco tempo, pede-lhe a mão ainda que não saiba seu nome do meio, um sinal inequívoco de que é demasiado prematuro para isso. Ida Ursin-Holm e Kanan Gill personificam um caso típico de choque cultural, que seus personagens nem consideram tão relevante assim, até os dois viajarem juntos para o interior da Noruega, aonde vão para comemorar as festas de fim de ano com a família de Thea. Decerto, Jashan precipitou-se mesmo, uma vez que sequer passou-lhe pela cabeça que, como indiano, poderia estranhar os costumes da família da agora futura esposa — e, por natural, provocar desconforto também.

O desembarque no topo do mundo dá azo a situações previsíveis que o texto de Holmsen explora com inventividade surpreendente. Anne-Lise, a mãe de Thea interpretada por Marit Andreassen, estipula um verdadeiro teste de resistência para o genro ao desafiá-lo a cumprir a tradição do banho da manhã de Natal, momento em que as pessoas jogam-se às águas de um lago enregelante sob o pretexto de estimular a circulação sanguínea e outros benefícios para a saúde, mas a baixaria maior é fazê-los saírem na boca da noite só para terem de ser resgatados por Jørgen, de Mads Sjøgård Pettersen, o ex-namorado da filha. Depois da bateria de humilhações a que se submete calado, o mocinho de Gill decide voltar sozinho para Los Angeles, sem saber mais se ainda haverá salvação para seu quase casamento. Ninguém jamais duvidaria que Thea iria ao seu encontro, implorando para que ficasse, e um ano depois, alguém imaginaria que a felicidade lhes sorri a cada novo amanhecer, todos os 365 dias de todos os doze meses até o fim dos Natais. A graça do amor é ser constante.


Filme: O Natal de Costume
Direção: Petter Holmsen
Ano: 2023
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10