O filme que o Brasil inteiro está assistindo, neste momento, na Netflix Divulgação / Constantin Films

O filme que o Brasil inteiro está assistindo, neste momento, na Netflix

Paul W.S. Anderson revela uma inegável fixação por videogames, e sua razão é palpável. Após a estrondosa ascensão da série “Resident Evil” (2002-2016), o diretor se aventura agora na trama envolvente de uma guerreira e seus leais subordinados, lutando para sobreviver após uma tempestade de areia que os transporta para um universo paralelo, mágico e notavelmente hostil em “Monster Hunter”. Neste novo filme, Anderson incorpora a fórmula que o consagrou na franquia anterior.

Considerado por muitos como um mentor dos nerds, especialmente aqueles que dedicam seu valioso tempo a assumir novas identidades nos jogos eletrônicos, Anderson utiliza esse nicho para replicar o êxito obtido em filmes que exploram crimes aparentemente inexplicáveis em Raccoon City. Este é tanto seu trunfo quanto sua ruína. Enquanto seu filme certamente envolve e cativa os já iniciados, para aqueles que não têm intimidade com a saga da tenente Nathalie Artemis, enfrentando inimigos tão extraordinários quanto brutais, a experiência pode ser comparada a uma criatura marinha perdida em um deserto escaldante.

A trilha sonora magistralmente composta por Paul Haslinger, ecoa de maneira envolvente, semelhante à música que permeia os ambientes cibernéticos, enquanto uma imponente arca avança por uma vastidão de terra árida. Dentro dessa arca, a tenente Artemis enfrenta a incerteza quanto ao desfecho de sua missão e à possibilidade de conduzir seus comandados ao destino original em segurança. Milla Jovovich, a musa e esposa de Anderson, entrega um desempenho satisfatório em seu novo papel, contudo, sua presença não evoca a mesma empatia que Alice, a heroína de “Resident Evil”, costumava suscitar. Em “Monster Hunter”, Jovovich incorpora quase todos os maneirismos de sua personagem anterior, ocasionalmente amenizando-os à medida que o diretor introduz o elenco nas nuances da narrativa. A Ranger não deixa de expressar seu desconforto diante das mudanças, das separações compulsórias e do véu do desconhecido que paira sobre tudo.

A solidão mais profunda da tenente Artemis é desafiada com a entrada em cena do caçador de monstros, interpretado por Tony Jaa. Ele personifica a sombra entre a aparente bondade de um lugar misterioso e a crua violência que impera nesta Terra desde tempos imemoriais. Infelizmente, Anderson dá preferência à ênfase na composição física de sua obra no roteiro, que adquire substância dramática no embate entre os protagonistas de Jovovich e Jaa, e um extraordinário dragão concebido pela equipe de computação gráfica liderada por Erica Van Den Raad. O dilema é que o diretor passa quase dois terços do filme buscando o tom apropriado para as metáforas, encadeando-as sem um método claro, especialmente na abertura. Somente quando soa o gongo, tudo se dissipa, deixando a sensação persistente de que nossos monstros são invencíveis em sua truculência, encontrando-nos, seja onde nos escondamos.


Filme: Monster Hunter
Direção: Paul W.S. Anderson
Ano: 2020
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 7/10