Na Netflix: visto por 1 milhão de pessoas na semana de estreia, filme faz revelações sobre batalha judicial e mental de Britney Divulgação / Netflix

Na Netflix: visto por 1 milhão de pessoas na semana de estreia, filme faz revelações sobre batalha judicial e mental de Britney

Todo mundo no mundo já ouviu falar de Britney Spears. Alguns não conhecem sua história, mas já ouviram seu nome, uma música ou leram algo na internet. O fato é que Britney Spears não sabe o que é não ser conhecida. No ramo artístico desde criança, quando participou do Clube da Disney com outros artistas mirins, como Ryan Gosling, Christina Aguilera e Justin Timberlake, Britney foi a primeira dessa trupe a se destacar, assinando um contrato com Jive Records que a lançou ao estrelato mundial com seu primeiro álbum, quando tinha 18 anos, “…Baby One More Time”. Ela estava o tempo inteiro na MTV e logo virou um fenômeno entre os adolescentes.

É verdade. Tudo começou muito cedo para ela. Muitos pais sonham em colocar seus filhos logo cedo em agências de modelo esperando que eles sejam alavancados para a fama e riqueza da mesma forma, mas esse tipo de situação se mostrou perversa e nociva para o desenvolvimento social e psicológico da criança diversas e diversas vezes. Britney não é um caso isolado. Aliás, isolado é quem consegue crescer mentalmente normal depois de passar por tudo isso. Casos como Dakota e Elle Fanning são raros e exigem muita estrutura, respeito e apoio familiar. Macaulay Culkin, Amanda Bynes, Lindsay Lohan, Miley Cyrus, dentre outros… Eles não têm culpa de terem sido jovens problemáticos. A indústria e a mídia fazem mesmo isso com os mais novos e ingênuos.

Coloque uma lupa sobre a crueldade da mídia e veja a amplitude dos estragos causados à Britney. Não sou particularmente uma fã, mas acompanhei sua carreira. No ano do lançamento de seu primeiro álbum, eu tinha 12 anos. Minha melhor amiga era fanática. Pude ver sua ascensão ao estrelato e a sua decadência moral e mental. Manchetes maldosas, perseguições absurdas. Jornalistas deixavam prontas matérias sobre sua morte, caso acontecesse. Sei como funciona. Tenho sido jornalista há dez anos. É impossível permanecer sã diante de todas as atrocidades cometidas não apenas pela imprensa, mas pela própria família, advogados, empresários e agentes de Britney. O documentário “Britney vs. Spears” acompanha toda essa trajetória de fuga da artista, que no início dos anos 2000 não tinha um segundo de paz para respirar, para chorar, para raciocinar. Ainda não tem. O filme ignora o surto mais famoso da cantora, em que ela raspa a cabeça e agride um paparazzo. Eles não estavam apenas fazendo o trabalho deles. Eles estavam ultrapassando todos os limites éticos e profissionais da imprensa.

Enquanto lutava pelo mínimo de privacidade, Britney travava muitas batalhas familiares. Uma delas com o primeiro marido, Kevin Federline, um dançarino por quem ela se apaixonou. Com ele, ela teve dois filhos. Depois, Kevin a coagiu a pedir o divórcio sob ameaças de ser separada das crianças, segundo cartas e gravações encontradas em arquivos da artista abertos na internet. A outra batalha era contra seu próprio pai, que pediu tutela de Britney sob alegação de que a cantora sofria de demência. A roteirista e a diretora, Sloane Kevin e Erin Lee Carr, respectivamente, conseguem entrevistas com pessoas próximas de Britney à época, reviram documentos divulgados on-line, resgatam antigas filmagens, fotos e notícias para contar a difícil jornada da artista pelo mundo da fama.

Triste, angustiante e esclarecedor, o documentário ainda acompanha os anos de batalha judicial de Britney para recuperar sua liberdade, além dos trabalhos exaustivos e forçados que enriqueceram os bolsos de Jamie Spears, pai e tutor da cantora durante 13 anos, além de advogados e agentes. Enquanto isso, ela recebia mensalmente uma mesada de oito mil dólares, não podia receber pessoas sem autorização prévia de seu pai, além de levar uma vida completamente limitada e vigiada.


Filme: Britney vs. Spears
Direção: Erin Lee Carr
Ano: 2021
Gênero: Documentário
Nota: 8/10