Arrepiante e perturbador, thriller sueco que acaba de chegar à Netflix vai te fazer ter calafrios por 100 minutos Robert Eldrim / Netflix

Arrepiante e perturbador, thriller sueco que acaba de chegar à Netflix vai te fazer ter calafrios por 100 minutos

Baseado no livro homônimo de Mats Strandberg, um dos autores nórdicos mais bem-sucedidos do gênero de terror, “Conferência Mortal” é um slasher sueco dirigido por Patrik Eklund, que adaptou a história para as telas com ajuda de Thomas Moldestad. Embora seja um prato cheio para a diversão, misturando mortes grotescas com humor sádico, o longa-metragem ainda trata de trazer argumentos sociais, criticando o capitalismo, a destruição do meio ambiente e a corrupção na administração pública.

O filme começa mostrando uma dúzia de funcionários públicos reunidos em um terreno prestes a receber tratores e escavadeiras para dar início às obras de um shopping center, o primeiro de Kolarängen, que tenta se passar por uma cidade perfeita, segura e feliz. Um comercial igual aos de margarina mostra famílias tradicionais, brancas e sorridentes usufruindo de uma vizinhança aparentemente receptiva, unida e pacífica. Eklund ironiza a falsa perfeição do lugar usando no comercial atores com físicos atléticos, mulheres loiras e peitudas, todos sempre sorridentes, mas dificilmente expressando alguma real felicidade ou liberdade. Tudo é apenas uma caricatura de uma sociedade conservadora e heteronormativa.

Após um discurso ridículo e desconfortável, Ingela (Maria Sid), a chefe do departamento, e de Jonas (Adam Lundgren), o gerente do projeto do shopping, o grupo se desloca até uma pousada, onde permanecerão para um “aperfeiçoamento de capacidades”, em que as burocracias da obra serão discutidas e acordadas para que se dê início aos trabalhos práticos. O local onde será construído o centro comercial costumava ser fazendas de trabalhadores, que foram removidos de suas terras. Quando Lina (Katia Winter) questiona como os ex-proprietários serão compensados pela perda de seus terrenos, a discussão toma um tom agressivo.

Desde o começo, é perceptível que este grupo excêntrico de pessoas não é exatamente unido. Na verdade, a tolerância entre eles é bastante limitada e o histórico revela, por um breve flashback, que a última reunião não terminou bem: dois membros se atracaram violentamente. Quando o contrato da obra apresenta diversas inconsistências, os funcionários se dividem em dois grupos: os ambiciosos, que não se importam com a ética e a moral do processo, apenas com a promessa de modernização e lucro que o shopping pode gerar à cidade; e os que se importam em seguir as regras, respeitar a natureza e os trabalhadores que vivem e necessitam de suas terras para sobreviver.

Eklund, assim como o cineasta Ruben Östlund, de “Triângulo da Tristeza”, explora com humor as nuances do capitalismo versus socialismo para criar uma rivalidade de classes que ultrapassa as barreiras do argumento e se torna uma questão física e de sobrevivência. Eklund, claro, de um jeito mais comercial. Ridicularizando os conservadores capitalistas, o realizador os mostra como um grupo idiotizado e desastrado, que sequer consegue encobrir as próprias lambanças no serviço público e se acha muito mais esperto que seus opositores.

Nessa guerra de braços, surge um psicopata mascarado que pretende causar mortes com os métodos mais crueis e sanguinolentos possíveis. Suas motivações não são muito claras na maior parte do filme, fazendo com que os personagens tenham que se unir para sobreviver ao caos instaurado pelo sedento serial killer. Com uma montagem inteligente e divertida, o filme de Eklund segue um ritmo dinâmico, brincalhão e um tanto sombrio.


Filme: Conferência Mortal
Direção: Patrik Eklund
Ano: 2023
Gênero: Terror/Mistério/Comédia
Nota: 8/10