A comédia mais engraçada da história do cinema está na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

A comédia mais engraçada da história do cinema está na Netflix

Ser adolescente é, grosso modo, inquietar-se e transgredir, para o bem e para o mal. O estranhamento de tudo e todos, o desconforto perante a sociedade e a si mesmo, o ímpeto de virar o que já existe pelo avesso e começar um novo mundo e uma nova era, sem muita ideia de por onde começar — o próprio quarto seria uma boa sugestão — pode dar numa revolução genuína ou em cadeia, a depender de como essa criatura frágil, presa de suas fantasias tão reais e tão plausíveis, vá absorver o que o universo deixa em sua porta. “Superbad — É Hoje” lida com grande parte desses temas a seu modo, ou seja, fazendo do escracho um instrumento poderoso quanto a fustigar os hábitos e permitir que daí brotem conclusões nada desprezíveis — malgrado um tanto centradas nos vícios do tal estilo americano de viver.

Greg Mottola capta as agruras de personalidades ainda por se consolidarem, marcadas por hormônios fervilhando em corpos cujo vigor físico extrapola a carne e desemboca nos relacionamentos em seu próprio grupo e com aqueles monstros de trinta anos ou muito mais, indignos de sua fiúza. O roteiro de Evan Goldberg e Seth Rogen é, aliás, um capital de que Mottola se vale com astúcia, restando claro que senso de realidade é uma meta da qual o enredo nunca se afasta.

A amizade de Evan e Seth parecia inabalável, mas antes que eles pudessem reagir, a vida como ela é jogou-lhes umas verdades ao rosto: a três semanas do final do ensino médio, eles descobriram que vão para faculdades diferentes.  Nesse primeiro contato com o filme, o espectador já nota que o envolvimento dos autores com a história vai além do esmero artístico, e não por acaso os personagens de Jonah Hill e Michael Cera recebem os nomes dos roteiristas, o que dá a vívida impressão de que os rapazes precisam de todo o apoio e toda a vigilância possível. Isso não inclui nenhum conselho de ordem da moralidade, tanto menos no que concerne à atividade sexual.

Evan e Seth precisam o quanto antes conhecer uma moça que aceite tirar-lhes a virgindade — uma para cada ou uma que sirva para os dois? —, evitando assim que se concretize a maldição que aprisiona no celibato involuntário por décadas os pobres diabos que encerram o colégio sem a tal experiência. Qualquer pessoa minimamente honesta admite que sua primeira vez no sexo se dá muito depois do tempo de escola — ao menos a primeira vez que conta. Ao diretor, entretanto, cabe apostar no clichê, extraindo daí passagens que mesclam lances cômicos a um melodrama involuntário, como o encontro de Evan, Seth e Fogell, o nerd e futuro magnata da computação vivido por Christopher Mintz-Plasse, na festa de Jules, a garota mais desejada do pedaço, de Emma Stone, a convite dela. O que sai disso, todavia, é só a arcaicíssima combinação bebedeira e desregramento erótico, que divertem, claro. Sobretudo se você ainda sofre com acne, ejaculação precoce ou seios ainda por despontar.


Filme: Superbad – É Hoje
Direção: Greg Mottola
Ano: 2007
Gêneros: Comédia
Nota: 7/10