O conto tenebroso e genial de Roald Dahl que virou obra-prima nas mãos de Wes Anderson e acaba de estrear na Netflix Divulgação / Netflix

O conto tenebroso e genial de Roald Dahl que virou obra-prima nas mãos de Wes Anderson e acaba de estrear na Netflix

“A Incrível História de Henry Sugar e Outros Contos” é um trabalho incomum do escritor infantojuvenil Roald Dahl. Nesta obra literária voltada para adultos, ele aborda temas sombrios, filosóficos e violentos. O cineasta Wes Anderson fechou parceria com a família de Dahl e a Netflix para transformar o livro em diversos curtas-metragens, que estão sendo liberados um a um pelo serviço de streaming.

Wes Anderson é um dos cineastas mais autorais e criativos da safra atual. Seu estilo único, embora possa se transformar ao longo de suas realizações, é inconfundível. Ter colocado as mãos nessa massa rica e densa que é a obra de Dahl foi realmente um bom negócio. Recentemente, o curta “O Cisne” foi liberado para o público trazendo uma produção cuja estética pode se confundir com o gênero infantil, por ser lúdica e teatral, mas seu enredo é chocante, assustador e violento.

A história gira em torno de três garoto: Ernie, Raymond e Peter. Em seu aniversário, Ernie ganha um rifle, o que lhe dá uma sensação de poder e domínio incrível. Ele chama seu amigo Raymond para atirar e matar todos os pássaros que avistassem pelo caminho. Até que eles cruzam com Peter Watson, um garoto doce e brilhante que observa um pica-pau de seu binóculo.

Diante da fragilidade e inocência do menino, eles decidem amarrá-lo e colocá-lo na linha do trem. Travessura e crueldade se unem para transformar a noite de Peter na mais aterrorizante de sua vida. O pequeno refém consegue afundar o crânio entre as pedras da linha e acaba sobrevivendo depois que o graúdo conjunto metálico longamente arranjado quase o extermina da face da terra.

Mas Ernie e Raymond não estão satisfeitos, eles precisam ir ainda mais fundo em seu ato de perversidade. Eles caminham até um lago, com Peter sob seu domínio, e atiram em um belíssimo e imponente cisne. A cena parte o coração de Peter, um adorador de aves, que consegue ainda proteger dois filhotes que estavam escondidos sob o corpo da mãe.

O duo pede para que Peter busque o cadáver do cisne, e ele, sem ter como reagir às intimidações, carrega o corpinho molengo da ave nos braços. Ernie e Raymond cortam as asas da ave e as amarram em Peter, o transformando em mais uma das inúmeras vítimas voadoras.

Os garotos cruelmente o pedem para que ele suba em um salgueiro-chorão, que para a infelicidade de Peter, não tem folhas e galhos densos o bastante para escondê-lo. Os garotos mandam que ele abra as asas e salte da ávore. Ele se nega, especialmente porque o local o dá uma sensação de estar minimamente no controle. Então, Ernie pega seu rifle e dispara na perna de Peter, que fica pendurado no galho, que eventualmente se quebra.

Toda a história é narrada pelo próprio Peter adulto, interpretado por Rupert Friend, o que deixa implícito que ele sobreviveu aquele fatídico encontro com valentões na sua infância. Também é uma metáfora que representa nosso poder de sobrevivência e adaptação. No entanto, a asas que também são vestidas pelo Peter adulto, aludem aos traumas que carregamos em nossas costas por toda nossa vida.

Antes dos créditos finais, dizerem relatam que Dahl se inspirou em uma notícia de jornal que guardou durante anos. O quanto desta história é real, não sabemos, mas há um peso de angústia e inquietação que deixa na boca um gosto um tanto quanto amargo.


Filme: O Cisne
Direção: Wes Anderson
Ano: 2023
Gênero: Suspense
Nota: 10