Drama europeu na Netflix narra uma das histórias mais impressionantes do século 20 Divulgação / Netflix

Drama europeu na Netflix narra uma das histórias mais impressionantes do século 20

Inspirado na vida de Lucio Urtubia, o thriller de ação dirigido por Javier Ruiz Caldera “Um Homem de Ação” começa com a frase icônica de Bertold Bretch: “O que é um crime de roubar um banco em comparação com o de fundar um banco?”. E assim, o longa-metragem espanhol escrito por Patxi Amezcua nos convida a adentrar os anos 1960 e dar um mergulho nas ideologias anarquistas de seu protagonista, vivido por Juan José Ballesta.

E é claro, o anti-herói é retratado como uma figura sonhadora, idealista e carismática, que pretende salvar o mundo do poderio elitista e da opressão das instituições financeiras. Considerado uma espécie de Robin Hood da vida real, Urtubia escapou do franquismo na década de 1950 e se radicou na França, onde se tornou pedreiro. Mas além da vida de trabalho braçal duro, Urtubia também se dedicou a uma série de ações anticapitalistas que o tornou manchetes de jornal e procurado internacional da CIA, a Agência Central de Inteligência norte-americana.

As práticas políticas de Urtubia foram diversas, incluindo o planejamento do sequestro de um dos chefões do nazismo, Klaus Barbie, na Bolívia, e a falsificação de documentos que livrariam da prisão membros do grupo de extrema-esquerda alemão Baader-Meinhof e também dos Panteras Negras. Mas o filme de Caldera gira primordialmente em torno de seu esquema de falsificação de cheques do Citibank, que se desdobrou na quase falência do banco.

A ideia colocada em prática pelo pedreiro foi tão genial, quanto efetiva. Ele e seu grupo conseguiram falsificar 200 mil folhas de cheque de 100 dólares cada, que foram distribuídas entre movimentos antifascistas de todo o mundo, especialmente da América Latina. Quando começaram a ser sacados, o Citibank proibiu cheques dados por turistas que fossem acima de 10 dólares. O plano foi um fracasso, porque sua receita também caiu drasticamente e suas ações no mercado financeiro despencaram. Enquanto isso, os cheques já rodavam por todos os lados da América Latina e o banco teve de fazer um acordo milionário com Urtubia para não fechar as portas. Todo o dinheiro foi usado por movimentos sociais.

A beleza de sua história é que todos esses planos foram orquestrados por um homem sem instrução e trabalhador, e que não visava o benefício próprio, mas de vários grupos de pessoas desprivilegiadas. Enquanto arquitetava seus planos que realmente fizeram diferença na vida de outros de seu tempo, Urtubia usou sua simplicidade e sua profissão para mascarar suas ações clandestinas.

Apesar das ambientações e figurinos perfeitos, cenas cômicas que se misturam com um pouco de ação, o filme de Caldera acaba tendo uma queda de ritmo e pode provocar a inquietação e desatenção do espectador. Não é difícil perder, em certo ponto, o foco e o interesse na obra, embora a história real na qual foi baseada e seu estudo de personagem sejam incríveis.

Com um currículo majoritariamente composto por comédias de ação, Caldera adentrou em sua era mais politizada em 2020, com “BastardoZ”, uma mistura de “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, e zumbis. Em “Um Homem de Ação” ele submerge novamente o campo minado das argumentações de cunho político-social e entrega uma produção satisfatória, mas não surpreendente.


Filme: Um Homem de Ação
Direção: Javier Ruiz Caldera
Ano: 2022
Gênero: Ação/Comédia/Biografia
Nota: 8/10