O tocante romance na Netflix que vai desafiar todas as suas emoções e prender sua atenção até o último segundo Divulgação / Columbia Pictures

O tocante romance na Netflix que vai desafiar todas as suas emoções e prender sua atenção até o último segundo

Em um cenário cinematográfico global, onde cada cultura e contexto carrega sua própria narrativa, surge uma indagação: um diretor americano, ainda que jovem e audaz, seria capaz de capturar e retratar conflitos tão intensos e inerentes à uma realidade tão distante, como os de uma nação multifacetada como a Nigéria? Antoine Fuqua, com seu estilo inconfundível, responde a essa pergunta. Ele sempre teve uma habilidade notável de desafiar convenções, navegando por mares controversos do politicamente correto, expressando suas visões com uma paixão que transborda da tela, e não hesitando em enfrentar as consequências que vêm com essa abordagem destemida. Isso é magistralmente evidenciado em “Lágrimas do Sol”.

Quase duas décadas se passaram desde seu lançamento, e, ao revisitarmos essa obra, percebemos que, apesar de seu caráter atemporal, alguns elementos do filme parecem se ancorar em seu próprio tempo. O drama de guerra, que se concentra mais na jornada pessoal e moral de um homem determinado do que nos horrores abrangentes do combate, ao ser analisado sob uma lente contemporânea, adquire nuances que talvez não fossem tão evidentes anteriormente. E embora seja incomparável a obras-primas épicas como “Apocalypse Now” (1979), não se pode negar que existem sutis paralelos e ecos entre a intrincada narrativa de Coppola e a visão de Fuqua.

Dentro do universo criado por Fuqua, Bruce Willis não é apenas um protagonista, mas um canal para os dilemas morais e éticos que o filme explora. Seu personagem, à medida que se desenvolve, lembra, de maneira tênue, o icônico papel de Marlon Brando, mas com nuances distintas e próprias, tornando-o singular. Willis, com sua vasta filmografia, brilhou nesse papel, consolidando sua posição como um dos principais atores de sua geração. Mesmo assim, em alguns momentos, percebe-se sua tendência a gravitar em torno de personagens mais severos, um lembrete de que todo artista tem sua zona de conforto.

A trama, rica em detalhes históricos e geopolíticos, não se restringe a um simples resgate. Ela mergulha profundamente nos matizes da Guerra Civil da Nigéria, fazendo uso de personagens fictícios, mas claramente inspirados em figuras reais, como Yakubu Gowon. E enquanto a narrativa nos leva através de uma costa africana, o espectador é presenteado com sequências visualmente deslumbrantes.

Seja através de cenas meticulosamente capturadas da selva, momentos de tensão em fugas, ou encontros carregados de emoção e humanidade, o filme é uma tapeçaria ricamente tecida de eventos e personagens. Momentos tocantes, como o sacrifício de um padre e alianças inesperadas, adicionam profundidade e complexidade à história. Embora algumas escolhas de roteiro possam beneficiar-se de refinamentos, “Lágrimas do Sol” permanece como uma testemunha do talento e visão de Fuqua.


Filme: Lágrimas do Sol
Direção: Antoine Fuqua
Ano: 2003
Gêneros: Thriller/Guerra/Ação/Drama
Nota: 9/10