Ganhador do Oscar, obra-prima que acaba de chegar ao Prime Video vai te deixar perplexo e transtornado

Ganhador do Oscar, obra-prima que acaba de chegar ao Prime Video vai te deixar perplexo e transtornado

Filme que deu para Joaquin Phoenix o Oscar de melhor ator, “Coringa” é um longa-metragem de Todd Phillips, lançado em 2019, sobre um dos personagens mais icônicos da cultura pop, um dos vilões mais populares e uma figura que sobrevive e se adapta ao tempo e às circunstâncias. Certamente memorável e incrível. Sua aparência e personalidade são tão marcantes e cheias de camadas, que ganhou inúmeras adaptações na literatura e nas telas, ao longo de várias décadas, e premiou, além de Phoenix, Heath Ledger como ator coadjuvante, postumamente, no Oscar de 2009.

A origem de Coringa é realmente obscura e trágica, sendo o personagem um homem inteligente, psicótico e traumatizado. Há algumas tentativas de explicar sua aparência, como a versão de uma suposta queda em uma banheira com produtos químicos, que deixaram sua pele esbranquiçada e seus cabelos vermelhos, mas as histórias por trás do vilão não são, e nem precisam, ser verdadeiras. É que o Coringa, por si só, não é um narrador confiável. Ele próprio cria várias versões de seu passado e confunde os aliados, inimigos e, inclusive, leitores e espetadores.

Embora tenha sido, especialmente nas versões de Tim Burton para as telas e em alguns quadrinhos, uma figura abobalhada, caricata e cômica, ele acabou reencontrando sua origem sombria nas versões mais atuais. Nas adaptações de Christopher Nolan e Todd Phillips, ele surge como um homem extremamente perturbado. Quando Ledger assumiu o personagem, deu uma aparência e um comportamento tão realista e assustador para ele, que deixou o público de cabelo em pé. Na performance mais brilhante de sua carreira e a melhor interpretação de Coringa até aquele momento, o ator foi tão sugado pelos delírios mentais do vilão, que conseguiu nos convencer de que realmente era ele. Talvez Ledger também tenha acreditado. É um mistério que jamais saberemos.

Mas na versão de Todd Phillips, Phoenix consegue encarnar Coringa de uma maneira ainda mais incômoda, arrepiadora e problemática. É impossível não sentir mal-estar enquanto testemunha cada cena dessa obra de arte, feita justamente para provocar o público, causar espanto moral e até torturar um pouco psicologicamente o espectador. Os filmes causam vários efeitos nas pessoas, e esse, sem dúvidas, vai te deixar meio zonzo e com náuseas. A última vez que vi um filme assim, foi em “De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick.

Não apenas a atuação de Phoenix é muito intensa, transtornada e paralisante, como também o enredo, as cores melancólicas (contrastada e esverdeada) e a trilha e efeitos sonoros provocam uma certa perplexidade no público. Há ruídos altos e músicas de suspenses que se misturam a canções alto-astral, provocando desorientação no espectador, ansiedade e medo. Ficamos confusos, porque não sabemos o que esperar desse personagem tão incongruente, tão danificado. Todd Phillips, inclusive, optou por tocar a trilha sonora durante as filmagens para que os atores pudessem ser contagiados pelas sensações que elas passavam.

Embora apareça inicialmente como vítima de uma sociedade cruel, intolerante, capitalista e exclusivista, não sabemos até onde Arthur Fleck, o Coringa, é capaz de ir, porque ele é mentalmente desequilibrado. Phoenix aparece tão magro, com veias saltando da testa, olhos arregalados, voz estridente e risadas nervosas que ele nos conduz pelo fio da insanidade de Coringa com tanta veracidade que chega ser assustador. Há uma certa ingenuidade que foge do controle. Afinal, Arthur sonha em ser um apresentador de stand-up e fazer as pessoas rirem. O problema é que ele é tão sem senso da realidade e perseverante, que acaba deixando seu alter ego controlar seu corpo, causando estragos irreversíveis, para a perplexidade da audiência.

“Coringa” custou apenas 55 milhões de dólares, considerado um orçamento até baixo para os padrões hollywoodianos, mas lucrou mais de 1 bilhão nos cinemas e recebeu vários prêmios. Uma obra conceitual, pesada, violenta e com uma carga dramática estressante, o filme tem intenção de provocar reações extremas. Mesmo assim, isso não é motivo nenhum para deixar de ver. Pelo contrário, é justamente aquilo que o torno tão magnético, impressionante e artístico.


Filme: Coringa
Direção: Todd Phillips
Ano: 2019
Gênero: Drama/Suspense
Nota: 10/10