Crônicas

Tresvarios da folia

Tresvarios da folia

Vesprando o carnaval, a viúva Cinira de Bilora já se impactava com uns dilurimentos nos bofes, por conta da algazarra que os foliões faziam em sua pacata Miraflor, som alto perturbando o sono, imoralidades diversas nos escaninhos das ruas e praças e as nojeiras de mijo, bosta e vômito que deixavam para o deleite de mosquitos e moscas, o sofrimento do olfato e a proliferação de macacoas e murrinhas.

Todo carnaval eu me lasco

Todo carnaval eu me lasco

Estou promovendo a minha autobiografia não autorizada. Espero que vocês aprovem, já que eu não. Prova disso é que a hipérbole se constitui uma figura de linguagem inerente aos apaixonados. Boas doses de exagero e de melodrama não farão mal algum. Todo carnaval eu me lasco. Desde criancinha que eu me lasco. Dentro da barriga da minha mãe, eu já me lascava com aquele tremendo pressentimento de que nasceria num período bombástico da história, em pleno regime militar, ao som do Hino da Bandeira ou de alguma marchinha carnavalesca misógina. Nunca eu queria ter vindo ao mundo na pele de uma mulher.

Apesar de soterrado, o amor sobrevive sob os escombros

Apesar de soterrado, o amor sobrevive sob os escombros

Tem uma obra de construção civil ao lado do prédio em que trabalho. Estão levantando um novo empreendimento. “Aproveitem. Restam poucas unidades” é o que dizem, em letras garrafais, a fim de melhorar as vendas que não estão lá essas coisas. Há uma grave crise econômica aporrinhando o país. Eu gosto de dar um tempo, de tomar cafezinho pela manhã, de ligar o cérebro aos poucos que nem televisão-de-tubo antiga, de espiar pela janela o movimento dos operários que zanzam lá embaixo

Os homens que não amavam os Yanomami

Os homens que não amavam os Yanomami

Pedir piedade não vai trazer o peixe fresco de volta, lá onde o rio faz a curva, lá onde o índio chora e a Mãe Natureza não escuta. Indiozinhos esquálidos, vítimas dos homens detratores, brincam de sobreviver ao jugo dos invasores com objetos feitos de raízes, de gravetos e de sementes, tudo fruto da imaginação de cérebros que ainda não definharam como o músculo e a gordura. A última parte do corpo que morre de fome e de amargura é o cérebro.

Não se bate em professor nem com uma flor

Não se bate em professor nem com uma flor

Papo de quem está ficando velho: sou de um tempo em que os alunos se apaixonavam pelos professores. No duro. Tipo curtir dor de cotovelo, chorar pelos cantos da casa ou pensar em se matar no jardim de infância. A primeira paixão arrebatadora foi por minha mãe que, aliás — pobre coitada! — era também uma professora de escola pública, em cujas tetas ptóticas combalidas armei acampamento para sugá-la como um parasita durante meses a fio.