Crônicas

Se for tarde demais, a gente aproveita a madrugada

Se for tarde demais, a gente aproveita a madrugada

Quem vive no passado anda de mãos dadas com a melancolia. Acaba por morar próximo de um vizinho carrasco, cujo nome é o ressentimento. Não há perdão nem à própria história: “aquilo que era vida”, “eu era feliz e não sabia”, “se eu tivesse feito assim, tudo teria sido diferente”. Tortura e sofreguidão, servidos na bandeja dos ressentidos! Entretanto, quem vive no amanhã é amigo próximo da ansiedade. Sempre à espera. Sempre à espreita. E toda essa agitação faz o futuro não chegar.

Mosquito na madrugada incomoda. Mas ex indeciso incomoda mais

Mosquito na madrugada incomoda. Mas ex indeciso incomoda mais

Mosquito na madrugada incomoda. Sapato apertado também. Vizinho barulhento, vazamento no banheiro, trânsito parado e cólica menstrual incomodam muito. Mas ex indeciso incomoda mais. Toda mulher que já conviveu com um “oi, sumida” na mesma semana de um “não me procure mais” conhece a tarefa espinhosa que é lidar com esse desagradável jogo de “vai e vem”.

O que você fala nem sempre (quase nunca) é o que o outro entende

O que você fala nem sempre (quase nunca) é o que o outro entende

Desde cedo, descobri — da forma mais curiosa possível — que não vemos as cores da mesma forma. Até hoje ainda acho muita graça quando discuto com minha querida mãe sobre cores que transitam entre laranja, rosa e vermelho. Minha paleta é imensa, vejo rosa-bebê, pink, fúcsia, vinho, ocre etc. As nuances dela também são várias, mas nunca batem com as minhas quando estamos nesses tons. Se vejo pêssego, ela vê rosa-chá, se vejo amadeirado, ela vê vinho claro. Geralmente, terminamos o assunto rindo (e com certa pena uma da outra), já que reciprocamente nos consideramos daltônicas. Jamais saberemos qual das duas nasceu com defeito de fábrica.

Um bom livro e um bom vinho são melhores do que muita gente

Um bom livro e um bom vinho são melhores do que muita gente

Hoje eu sei que não preciso mais me agarrar à adrenalina para me sentir viva. Ler um livro, assistir a um filme, encontrar um amigo me fazem melhor do que voar de asa delta, por exemplo. Chega uma época em que não precisamos mais de autoafirmação. Nós nos conhecemos tão bem que já não fazemos a menor questão e o mínimo esforço para agradar aos outros. Não temos mais a necessidade de nos sentir aceitas, da mesma forma que também não aceitamos qualquer um e qualquer programa.