Carta aos órfãos
Quem destrói a minha vida nunca olhou na minha cara. Quem mata o que eu mais amo me ignora. Dispensa o constrangimento. Sangue derramado de longe não embrulha estômago. A cor, o cheiro, os gritos: coisa dessa gente que sofre tragédia, coisa indelicada. Crime é respingar na mesa onde negociam a impunidade, na mesa onde vendem minha alma sem sequer puxar-me uma cadeira, pois não sei morrer de boca fechada, sem mostrar o indigesto mastigado na garganta.