Autor: Eberth Vêncio

Não dá pra construir um Brasil melhor com ovos de chocolate que não contenham glúten

Não dá pra construir um Brasil melhor com ovos de chocolate que não contenham glúten

Minha falta de fé anda irritante, eu reconheço. Tive um desentendimento com a minha mãe — e sei que isso é motivo mais que suficiente para que as minhas mãos sequem — por conta de um benzedor de cobras. Cria ou não cria naquilo? Não cri, pra variar. Enquanto eu ria, a gentil senhora fechou o cenho para me convencer que o sujeito convencia sim as serpentes a se escafederem do perímetro de uma gleba inteira, valendo-se apenas do instituto dos espasmos medonhos, trejeitos inimitáveis e muita, muita oração.

Vou atirar um avião contra os Montes Urais para provar que te amo

Vou atirar um avião contra os Montes Urais para provar que te amo

“A cidade é uma moça”. Partindo dessa premissa, aportou no Rio, onde nadou, nadou, nadou, nadou em busca de um amor, mas morreu na praia. Foi reanimado com falta de jeitinho pelos simpáticos cariocas praianos, com mate gelado na fuça e um sol a pino a esturricar o seu coração partido. Partiu, então, para São Paulo, terra das oportunidades e das atrocidades. O nome pomposo de santo apostólico romano não impediu que a louca metrópole o engolisse. E mais: ao contrário do que o poeta baiano cantou em Sampa, nada de diferente aconteceu no seu coração ao cruzar a Ipiranga e a Avenida São João.

Que Deus jamais me faça nascer mulher ou escritor

Que Deus jamais me faça nascer mulher ou escritor

Bolei. Será que os homens também sofrem as agruras de uma TPM? Deve ter um pedaço de ovário a germinar num canto qualquer das minhas entranhas, atrás de uma tripa, sei lá. Só pode. Quem sabe, ele brotará calado na curva estomacal, disfarçado de víscera irrelevante, lado a lado com o meu panceps. O bom e velho panceps. O que será isso?

Eu não preciso de delação premiada para confessar o quanto odeio tudo isso

Eu não preciso de delação premiada para confessar o quanto odeio tudo isso

Pode parecer veadagem da minha parte, mas senti uma vontade danada de me casar com aquele cara. Era um pilantra garrido, rico a granel, de pele boa, com um charmoso sotaque carioca, e que transmitia uma segurança do cacete. Pensei deve ter tido aulas de oratória com o cão-tinhoso. Valendo-se de um português perfeito, o pulha de black-tie garantiu que repatriaria cerca de duzentos milhões de patacas, a pedido da Polícia Federal, da Procuradoria Geral da União, do Papa Francisco e da Xuxa.

Lugar de mulher é na cozinha

Lugar de mulher é na cozinha

Enquanto lavava as louças, ouviu pelo rádio que no próximo domingo seria comemorado o Dia Internacional da Mulher. Na altura do campeonato, achava aquilo irrelevante. A meta era se matar antes do final da quaresma. Acredite quem puder: a única carne vermelha que comiam naqueles dias era o seu coração vazio servido num prato fundo.