Autor: Eberth Vêncio

Que saudade do colo da minha mãe

Que saudade do colo da minha mãe

Quando ela disse que queria sumir, que queria se matar, eu fiquei muito preocupado. A cena era de fazer dó. Contorcia-se no chão em total descontrole, curvada, encolhida, parecia uma cadela friorenta, um farrapo humano com as mãos na cabeça, em posição fetal. Só que ela era uma mulher de trinta e poucos anos a implorar, nas entrelinhas e de forma miserável, o retorno imediato para a pasmaceira do claustro uterino materno. Achei aquele espetáculo deplorável além da conta, então, fiz de tudo para tentar acalmá-la. Era casada, tinha três filhos e trabalhava na empresa que cuidava da limpeza e manutenção da clínica. Foi a primeira vez que nos falamos pra valer. E nossa conversa doeu.

Eu devia estar contente por você me amar

Eu devia estar contente por você me amar

Eu devia estar contente. Abri o envelope e li as letras garrafais: “Negativo”. Pow! Abri um tinto chileno. Chegou outra carta essa manhã. Ora, com tanta falta de tempo, com tanta informação nas nuvens, quem se presta a enviar cartas? Perguntei se ela ainda me amava ou se já estava farta, e ela fez assim, com o dedo polegar levantado entre as cobertas, apontado para cima: “Positivo”. Aquilo era alvissareiro. As crianças vieram para o feriado prolongado. Desta vez, a melancolia foi curta.

Nalgum lugar do mundo tem alguém que te odeia

Nalgum lugar do mundo tem alguém que te odeia

Nalgum lugar do mundo, nem bem amanhece o dia, tem alguém que te odeia. Pode ser ao teu lado, num boteco imundo ou no parlamento carpetado dum país de primeiro mundo. Notícias como essa jamais descem redondas, eu admito. Exceto os muito bons, todos querem ser amados. Nalgum lugar do mundo tem alguém que pensa em ti, que pensa em te ferrar por uma vida inteira ou por um final de semana, metido dentro de um uniforme de policial ou trajado à paisana.

Eu voto Sim! Minha decisão é amar

Eu voto Sim! Minha decisão é amar

Pelo impeachment da distância que separa os amantes, eu voto Sim! Não vai ter golpe, mas, vai ter queda: pelos que vão cair de cama por causa de um amor doentio, eu voto Sim! Pelo efeito manada das paixões galopantes, eu voto Sim! Para que a bancada ruralista plante flores ao invés de capim, eu voto Sim! Pelos que querem derrubar governos com poesia, eu voto Sim! Pela desgovernada ditadura dos beijos, pelas prisões arbitrárias em abraços, pelo arresto total dos bem-quereres, eu voto Sim!

Lave a boca antes de dizer eu te amo

Lave a boca antes de dizer eu te amo

Eu te amo. Nunca se falou tanto isso na história da humanidade. Tá mais dito, repetido e puído do que Eu acredito em Deus, Eu não acredito que a sua menstruação atrasou e Eu duvido que a Receita Federal me pegue. Pode parecer heresia. Não é. Pode parecer machismo. Não é. Pode parecer sonegação. E é. A coisa anda séria. Tem muita gente agora querendo derrubar o Governo e eu não estou aqui pra fazer graça a ninguém.