O filme da Netflix que Adam Sandler considera sua melhor atuação vai te fazer rir, chorar e tocar seu coração Atsushi Nishijima / Netflix

O filme da Netflix que Adam Sandler considera sua melhor atuação vai te fazer rir, chorar e tocar seu coração

Não é completamente exata a máxima de Tolstói que afirma que as famílias felizes são todas iguais, enquanto as infelizes são únicas em seu sofrimento. Ao examinar mais atentamente, percebe-se que mesmo no infortúnio, as unidades familiares — compostas por pais, mães e filhos, e hoje em dia muito mais complexas — compartilham diversos pontos de interseção. Frequentemente, são assediadas por egocentrismos que vêm de dentro, como se uma das instituições mais básicas da sociedade estivesse sendo ameaçada pelo próprio núcleo familiar, numa guerra emocional interna. Parece que o mundo está invertido, com pessoas retrocedendo, embriagadas por mágoas acumuladas, e a humanidade regredindo em sua evolução.

Noah Baumbach tem se destacado como um cineasta que observa minuciosamente as nuances das relações familiares, suas crises e suas alegrias. “Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe” (2017) retrata, com cores vivas e tons sombrios, a dinâmica de pessoas que se amam e se odeiam, mas que não conseguem se desvencilhar umas das outras, ligadas por um sentimento poderoso que as mantém unidas para o bem e para o mal. Dois anos depois, Baumbach consolidaria sua reputação como um cronista das relações humanas complexas e infundiria um pouco mais de profundidade em Hollywood.

“História de um Casamento”, um filme que se distingue pela sua simplicidade e raridade, permitiu a Laura Dern ganhar Oscar, Globo de Ouro, BAFTA e Critics’ Choice Award por sua atuação como uma advogada de divórcios, em uma irônica e proposital escolha. O filme tem uma conexão espiritual com Ingmar Bergman (1918-2007), o cineasta sueco que foi um dos primeiros a expor, com refinamento, a hipocrisia de casais que, embora um dia tenham se amado, tornam-se um fardo um para o outro, sem perceber o veneno que espalham ao seu redor.

Harold Meyerowitz, interpretado por Dustin Hoffman, é um patriarca octogenário que se recusa a aceitar a velhice — uma característica longe de ser um elogio. Em seu quarto casamento (terceiro, se ignorarmos uma união anulada por razões não reveladas), Harold, um artista plástico esquecido, encontra-se repentinamente cercado pelos filhos, uma situação que lhe causa grande desconforto.

Danny, um músico talentoso, mas frustrado, interpretado por Adam Sandler, que se sustenta com trabalhos temporários na construção civil, mostra uma maturidade artística crescente, como visto em “Arremessando Alto” (2022), de Jeremiah Zagar. Matthew, um corretor de imóveis interpretado por Ben Stiller, é previsível e um pouco materialista, mas sensato em meio ao caos familiar. Jean, uma solteirona assexuada interpretada por Elizabeth Marvel, não é tão sensível quanto Danny, mas mais interessante que Matthew. Juntos, tentam agradar o pai, um esforço que pode exasperar o público. Juntam-se ao grupo Maureen, a atual esposa de Harold, interpretada por Emma Thompson, quase irreconhecível, e Eliza, interpretada por Grace van Patten, a filha de Danny prestes a sair de casa para seguir seus próprios sonhos. As personagens de Thompson e Van Patten destacam-se por terem vidas além da órbita do patriarca dominante.

Embora a trama inclua uma confusa menção a um inventário, fica claro que os seis personagens permanecem juntos, apesar dos esforços de Harold para ser desagradável, grosseiro e pedante. A sequência de Hoffman e Stiller em um restaurante é especialmente memorável. O amor, de alguma forma, prevalece. É difícil não sentir raiva de Harold, para logo depois sentir pena e até gostar um pouco dele. O filme provoca risos e lágrimas, muitas vezes na mesma cena, quase sem diálogos, encantando qualquer apreciador de bom cinema e de boas histórias. Isso demonstra tanto técnica quanto pura sensibilidade.


Filme: Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe
Direção: Noah Baumbach
Ano: 2017
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 9/10