Com mais de 200 indicações a prêmios, além de 5 Oscars, filme com Saoirse Ronan é um dos melhores da Netflix Merie Wallace / A24

Com mais de 200 indicações a prêmios, além de 5 Oscars, filme com Saoirse Ronan é um dos melhores da Netflix

Joan Didion certa vez disse que quem celebra o hedonismo da Califórnia nunca experimentou um Natal em Sacramento. Ela, nascida e criada na cidade, conhecia bem essa realidade. Didion, uma figura essencial no mundo literário, possuía uma capacidade singular de captar e refletir as complexidades de sua época, vertendo suas percepções em milhares de artigos e quase cinquenta livros.

A mente perturbada de Charles Manson, o líder de uma seita radical no ensolarado recanto dos Estados Unidos, e o impacto devastador da Guerra do Vietnã na juventude americana foram temas explorados com uma originalidade única por Didion. Sua escrita, sempre vibrante e incisiva, reflete um profundo entendimento das contradições e tensões da sociedade americana, algo que ela provavelmente não teria alcançado se tivesse permanecido em sua cidade natal. Esse mesmo sentimento de deslocamento e busca por identidade ressoa em Christine McPherson, protagonista de “Lady Bird: A Hora de Voar”, uma obra que marca a autodefinição de Greta Gerwig como diretora.

Assim como Didion, Gerwig utiliza suas experiências pessoais para abordar o crescimento em um ambiente que muitas vezes parece hostil. “Lady Bird” é uma exploração honesta e autêntica das dificuldades de se encontrar e se afirmar em um mundo que não gira ao nosso redor. A personagem principal, interpretada de maneira brilhante, permite que todo o elenco de apoio também tenha seus momentos de brilho, resultando em um filme coeso e envolvente.

Os sonhos são essenciais para tornar a vida mais suportável e menos cruel. Se todos tivessem sonhos grandes o suficiente para perseguir incansavelmente, até que se concretizassem, o mundo veria uma revolução significativa. Para isso, é muitas vezes necessário abandonar tudo, deixar para trás a vida que conhecíamos, e mergulhar em uma introspecção profunda que nos permita acessar os recantos mais sombrios de nosso espírito. Esse processo de autoexame e sensibilidade é crucial para a realização de nossos desejos, tanto os possíveis quanto os aparentemente impossíveis.

Didion compreendia profundamente que as circunstâncias e o ambiente podem moldar, mas também podem limitar. Sua decisão de sair de Sacramento foi um passo essencial para se tornar a voz literária que capturou a essência de uma geração. Da mesma forma, Christine McPherson, em “Lady Bird”, percebe que para se encontrar e alcançar seus sonhos, é preciso ir além dos limites impostos pelo seu ambiente imediato.

Assim, “Lady Bird: A Hora de Voar” não é apenas uma obra de Greta Gerwig, mas também como uma narrativa universal sobre a busca de identidade e o desejo de transcender as limitações impostas pelo ambiente. Gerwig, com sua abordagem sensível e realista, nos lembra que a jornada para encontrar nosso lugar no mundo é repleta de desafios, mas também de oportunidades para crescimento e autodescoberta.

A realização de nossos sonhos exige coragem para mudar, para questionar o status quo e para nos abrirmos a novas possibilidades. Com essa perspectiva, “Lady Bird”, na Netflix, nos oferece uma visão esperançosa de que, mesmo em meio às dificuldades, podemos encontrar nosso caminho e alcançar nossos objetivos, tornando o mundo um lugar mais acolhedor e cheio de possibilidades.


Filme: Lady Bird: A Hora de Voar 
Direção: Greta Gerwig 
Ano: 2017 
Gêneros: Comédia/Romance/Coming-of-age 
Nota: 10