Atuação considerada mais brilhante da carreira de Jude Law está no Prime Video Divulgação / Element Pictures

Atuação considerada mais brilhante da carreira de Jude Law está no Prime Video

Diz o dito popular que “amor não enche barriga”. E não enche mesmo. Estudo de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 60% dos divórcios no Brasil são decorrentes de problemas financeiros. Faça uma pesquisa e verá que em todos os países do mundo a situação se repete. A chamada infidelidade financeira é muito mais letal para os relacionamentos que a amorosa, por assim dizer.

Em “O Refúgio”, suspense escrito e dirigido por Sean Durkin, lançado em 2020, acompanhamos a vida do casal Rory O’Hara (Jude Law) e Allison (Carrie Coon). Ele é inglês e ela americana. Os dois possuem dois filhos, a adolescente rebelde — se é que não seria redundante colocar desta maneira — Sam (Oona Roche), e pequeno, frágil e introspectivo Ben (Charlie Shotwell).

No começo do enredo, a família mora em Nova York, próxima dos pais de Alli. No entanto, Rory está insatisfeito, porque está passando por dificuldades financeiras. Suas economias estão se esgotando e, logo, ele não terá mais condições de cuidar de sua família. Em uma conversa com a esposa, ele diz que eles precisam voltar para Londres onde ele terá uma grande oportunidade de negócio com seu antigo chefe, Arthur Davis (Michael Culkin).

Alli não gosta da notícia, mas o filme dá um salto temporal para o momento em que a mãe e os dois filhos já estão na Inglaterra, em uma área rural nas proximidades de Londres, sendo recepcionados por Rory em uma propriedade centenária e aristocrática. A casa não é exatamente luxuosa, mas é exuberante e reflete o espírito de grandeza que se apodera de Rory. Em Londres, ele se sente novamente no controle de sua vida.

Enquanto estavam nos Estados Unidos, no território de Alli, ele se sentia impotente e desmasculinizado. Agora, de volta à Inglaterra, suas ambições pululam pelos poros. Há sangue nos olhos de Rory. Sua ânsia de viver parece mais acesa. Empolgado, ele apresenta os cômodos da residência histórica à família, pergunta ao filho sobre o colégio de elite no qual foi matriculado e que sempre teria sido sonho de Rory, quando criança.

Ele está a todo momento, como um típico negociador, contando vantagens sobre suas conquistas e posses. Ele presenteia a esposa com um casaco de pele, um cavalo e o estábulo que ele constrói na parte externa da propriedade para mimá-la, já que ela é uma treinadora de equitação. Há claramente amor, mas o casamento já dá alguns sinais de fragilidade.

Com o passar dos meses, os gastos da família são altos demais para o que Rory ganha. Ele espera conseguir convencer Arthur a vender sua empresa para uma companhia americana e, com isso, ganhar uma comissão milionária. O problema é que Rory vai demais com sede ao pote e as coisas acabam não saindo como esperado. Claro, as contas começam a se acumular e a vida de sonhos começa a se desabar.

Aos poucos, Alli começa a ser cobrada por causa de cheques sem fundo do marido. O cavalo adoece e morre, como se selasse o futuro sombrio da família. Sam está cada vez mais perdida em seu inconformismo em relação à superficialidade da vida que levam, enquanto o irmão ronda sozinho pelos cantos do casarão, sentindo-se menos amado pelos pais. Em alguns momentos, tememos pela sua segurança. Conforme a ruína financeira recai sobre os O’Hara, a relação entre todos também começa a desmoronar.

Neste retrato tão elegante e realista de como falham os casamentos, “O Refúgio”, de Sean Durkin, no Prime Video, entrega uma história discreta, que diz muito sem necessidade de grandes gestos na tela.


Filme: O Refúgio
Direção: Sean Durkin
Ano: 2020
Gênero: Drama/Romance/Suspense
Nota: 8/10